AZUL LIMÃO: um legado que já ultrapassa 30 anos.


Por Écio Souza Diniz 
Um dos nomes lendários do Metal Brasileiro oitentista, o grupo carioca AZUL LIMÃO deixou sua marca na nossa história com o seu debut, Vingança(1986), o qual hoje é um dos grandes clássicos do estilo por aqui. Adicionalmente, ainda fizeram uma boa jogada com o EP Ordem e progresso (1987), mas como nem tudo é repleto de maravilhas, a banda se separou e ainda permanece inativa, tendo se reunido apenas para o lançamento do álbum/compilação Regras do jogo (2013). O guitarrista Marcos Dantas (METALMORPHOSE) é quem conta ao PÓLVORA ZINE detalhes sobre tudo isso, além de mencionar sua visão sobre a cena metálica atual e o consumo virtual de música.
 PÓLVORA ZINE: O AZUL LIMÃO está dentre as bandas mais clássicas do metal carioca e nacional, tendo sido responsável pelo clássico álbum Vingança (1986) e o EP Ordem e Progresso (1987). O que motivou a reunião da banda para gravar Regras do Jogo (2013)? 
Marcos Dantas: Não houve retorno da banda! O Aderson do selo Dies Irae me procurou interessado em material da banda gravado em shows para lançar um CD ao vivo. Fiz uma contraproposta de reunir a banda em sua formação original para gravarmos as músicas que tocávamos nos shows nos anos 80 e que não foram incluídas nos dois álbuns. Ele topou! Então falei com Vinícius e com Ricardo e começamos todo o processo de relembrar as músicas, ensaiá-las e gravar o instrumental em 2010. Ficamos aguardando Rodrigo passar pelo Brasil em suas extensas turnês como cantor lírico e no final de 2011 ele colocou sua voz na gravação. Em 2012 já tínhamos a mixagem pronta, mas depois que conheci o trabalho do Gustavo com o METALMORPHOSE, resolvi remixar o álbum com ele em 2013. Ainda em 2013, aproveitamos outra passagem do Rodrigo pelo Rio de Janeiro e fizemos um show no Rio Rock Blues Club, na Lapa, para comemorar os 30 anos da formação clássica da banda, o qual pode ser assistido no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=UAxgUCnEC0o     
P.Z: Vingança recebeu uma homenagem da banda conterrânea METALMORPHOSE, a qual você também é guitarrista, em um show em 28 de agosto de 2016. O que representou isso para você e para o AZUL LIMÃO?
Marcos: Meu desejo era reunir o AZUL LIMÃO na sua formação original e fazer um show tocando o Vingança na íntegra para comemorar os 30 anos do álbum, mas a banda não está mais na ativa e o fato do Rodrigo viver na Espanha tornou isto inviável. Então sugeri ao METALMORPHOSE a ideia de tocarmos músicas do álbum Vingança num show em agosto para celebrarmos a data e a banda topou. Chamamos o Vinícius para assumir o baixo nas músicas do AZUL LIMÃO e foi muito legal! Para mim, o Vingança tem um significado muito grande, pois foi meu primeiro álbum e marcou uma das melhores épocas em minha vida no Rock. Tem muita emoção e garra de nós quatro no álbum e ele tem uma qualidade de gravação excepcional para época.
P.Z: Foi lançado em 2001 pela Dies Irae em LP as compilações Pegasus, The Tapes I, com demos de 83 a 89, e Amazona, The Tapes II, com músicas raras e ‘outtakes’. Como se o processo de produção e qual foi saldo deste lançamento? Tem crescido a procura pelo material com o fortalecimento da cena que resgate o metal brasileiro clássico dos anos 80?
Marcos: No começo, quando o selo Dies Irae me propôs fazer estes álbuns fiquei muito resistente, pois a maioria das gravações eram de fita cassete e não tinham boa qualidade. No entanto, Carlos Punk me convenceu que aquelas músicas, inéditas em LP, nunca teriam um registro e esta era uma boa oportunidade de colocá-las em um álbum. Então concordei. Não imaginava que em 2010 gravaríamos estas músicas em estúdio com a formação original. Se soubesse do futuro não teria autorizado, mas valeu pelo registro histórico da banda.
P.Z: Em Regras do jogo, uma das faixas que mais gosto é Entrada no harém que é uma espécie de épico executado em mais de 10 minutos e dividido em quatro partes, embora seja um som das antigas que já entrou na compilação Amazona. Como surgiu a inspiração para esta faixa? Ela tem sido tocada ao vivo?
Marcos: Ela era tocada muito nos shows de início da banda e sempre com muitos improvisos. Nestes shows que fazemos eventualmente depois da banda ter encerrado as atividades me lembro de termos tocado ela em um show no antigo Garage no Rio. Também no improviso no meio do solo de O Grito as vezes coloco Noite no Deserto para dar uma “viajada” no som. A inspiração para esta faixa veio da minha convivência com um vizinho iugoslavo que era baixista e fazíamos algumas jams. Ele me mostrou várias bandas iugoslavas e uma delas, a SMAK, tinha uma música “Ulazak u harem” que eu ficava ouvindo direto. Também queria fazer algo como aquelas partes viajantes do LED ZEPPELIN e do RUSH, então fui criando minha Entrada no Harém misturando tudo isto. Quando começamos a tocar em festivais de colégios e ensaiar na casa do Vinícius em 1981, tocávamos muitas músicas instrumentais porque não conseguíamos um bom vocalista. Quando Rodrigo entrou na banda em 1983 mantivemos algumas músicas instrumentais no repertório até compormos mais músicas com vocal.
P.Z: Algo que já ouvi muitos headbangers fãs de vocês perguntarem é sobre o nome da banda: “Por que ‘Azul Limão’?”. Poderia nos explicar?
Marcos: Éramos meio hippies no começo. Herança dos 70. Nosso baterista da época, Fábio “Bebezão”, sugeriu o nome depois de ler uma história em quadrinhos, mas ninguém gostou. Gostávamos de bandas com nomes estranhos: DEEP PURPLE, PINK FLOYD, YES, KISS etc. Então ficamos usando este nome enquanto não aparecia um melhor. Até hoje não escolhemos o nome apropriado para a banda !!! Acho METALMORPHOSE um nome fantástico para banda, mas já existe uma e eu estou tocando nela (Risos).
P.Z: Após muitos anos de uma postura sólida com relação à propagação da música por vias digitais vocês decidiram lançar os trabalhos da banda em plataformas como iTunes e Spotify. Como você visualiza os prós e contras da digitalização da música e da arte em geral?
Marcos: Realmente não se ganha nada sem abrir mão de alguma coisa. A combinação da facilidade de digitalização da gravação de som e imagem e o uso cada vez maior da Internet pelas pessoas comuns propiciou a diminuição dos intermediários entre os artistas e os consumidores de arte. No entanto, as mesmas tecnologias que facilitaram a produção artística também facilitaram as cópias desta produção sem perda de qualidade. Então os meios tradicionais de comercialização de arte estão com os dias contados. Por outro lado, há enorme facilidade de inserção de novos artistas no mercado de arte sem necessidade de grandes investimentos. Resta saber como os artistas serão remunerados pelo direito autoral. As bandas ainda têm o recurso de fazer shows ao vivo. Quando percebi que meus filhos não compram CD e que eles só têm os que dei a eles quando eram crianças mas estão bem informados das novidades musicais, entendi que, se o AZUL LIMÃO quer ter seu legado conhecido pelas gerações futuras, temos que aderir as novas formas de veiculação musical. Entre prós e contras, gosto desta nova era, pois privilegia o acesso das pessoas à música, à arte em geral.
P.Z: Você que veio de uma geração em que o vinil era o maior consumo fonográfico, o que tem achado desta nova febre deste formato de mídia aqui no Brasil?
Marcos: Ainda mantenho minha coleção de álbuns em vinil e mantenho meu toca discos funcionando, mas prefiro comprar os álbuns novos em CD. Acho mais prático. Os álbuns com versões editadas em vinil permitem uma arte gráfica melhor e acho que é por isto que atraem mais os fans que querem ter mais que só a música da banda em suas mãos.
Há planos para lançamento de álbum de inéditas num futuro próximo?
Marcos: Como falei antes, o selo Dies Irae me pede um “ao vivo” do AZUL LIMÃO. Gravamos e filmamos com ótima qualidade o show de comemoração dos 30 anos da banda no Rio Rock Blues Club em 2013, mas este se for lançado não terá nenhuma inédita. Tenho composto, nestes últimos anos, novas músicas que gravei com o METALMORPHOSE. Então diria que músicas do álbum Fúria dos elementos como Espanhola e Corda Bamba seriam músicas inéditas do AZUL LIMÃO caso a banda estivesse em atividade. Neste próximo CD do METALMORPHOSE, que se chamará Ação e reação, eu compus muitas músicas que também seriam inéditas do AZUL LIMÃO, mas como a banda não está mais em atividade então as gravei com o METALMORPHOSE que é minha banda atual.