Uma noite histórica e única para muitos
fãs de Metal. Isto foi o que representou e o que muitos dos presentes no
Espaço das Américas na capital de São Paulo esperaram e receberam no
dia 25 de Junho de 2017. Tratava-se da recente turnê do lendário
vocalista dinamarquês KING DIAMOND, tocando o clássico álbum Abigail (1987) na íntegra. O show organizado como parte do Liberation Festival 2017 também contou com os shows do CARCASS (Inglaterra), TEST (São Paulo), HEAVEN SHALL BURN (Alemanha), LAMB OF GOD
(Estados Unidos). O PÓLVORA ZINE teve a oportunidade de acompanhar esta
noite lendária e relata aqui ao leitor, dando maior enfoque na
cobertura dos shows do CARCASS e do KING DIAMOND.
A primeira banda a entrar em cena foi a TEST,
mandando seu Grindcore/Death metal seco, cru e agressivo executado
apenas pela guitarra e vocal de João Kombi e da bateria de Barata. Os
paulistanos mostraram sua garra através de músicas bem rápidas e
certeiras. Na sequência vieram os alemães do HEAVEN SHALL BURN
que já contam com um bom público brasileiro. Principalmente o público
mais jovem agitou bastante durante o show, destacando a audiência para
músicas como Endzeit, The Weapon They Fear e Counterweight.
CARCASS |
Mas se tratando de pedrada sonora, os veteranos do icônico CARCASS
entraram com tudo. A performance impecável de Jeff Walker (baixo e
vocal), Bill Steer (guitarra), Ben Ash (guitarra) e Daniel Wilding
(bateria) proporcionou o melhor show da banda desde sua primeira
passagem pelo Brasil em 2008. O potente e inconfundível vocal de Walker
juntamente com sua presença e carisma continuam sendo um dos destaques
nas músicas e shows da banda. O set list foi executado com afinco
abrangendo desde petardos mais recentes até os clássicos. Após a breve
introdução de 1985, a abertura veio arrebentando tudo com 316 L Grade Surgical Steel do mais recente álbum, Surgical steel (2013). Deste álbum ainda mandaram ver com os arrasa quarteirões Cadaver pouch conveyor system e Captive bolt pistol.
Mesmo com o Espaço das Américas lotado, ainda rolaram alguns mosh pits,
especialmente durante a execução de clássicos do álbum Heartwork (1993) como sua faixa título, Buried dreams, Carnal forge, No love lost e This mortal coil. Mas não parou por aí, pois ainda rolaram as viscerais Incarnated solvent abuse e Corporal jigsore quandary do álbum Necroticism – descanting the insalubrious
(1991), fase clássica que contava com Michael Amott (ARCH ENEMY). Para
aqueles, como este que vos escreve, que são fãs da fase Gore/Grind da
banda, como brinde ainda foram tocadas Reek of putrefaction e Exhume to consume de Symphonies of sickness (1989). Vale por fim, ressaltar também o belo fundo de palco baseado na capa Surgical steel.
CARCASS |
O LAMB OF GOD entrou em
cena para fazer a abertura para o rei já com parte considerável do
público da pista cansado diante do calor exacerbado do Espaço das
Américas, que não possui um bom e adequado escapamento de ar e apenas ar
condicionados não diluem o calor de uma multidão num espaço fechado
como aquele. Com grande público jovem no Brasil, os norte-americanos
agradaram a muitos com músicas como Ruin, Redneck e 512.
Entretanto, o show foi demasiadamente homogêneo em sua estrutura e
execução, por conseguinte, um tanto quanto enfadonho, aumentando a
ansiedade de parte do público para a atração principal. Além disso, o
vocalista Randy Blythe fez uma piadinha imitando o vocal falseteado de
KING, o que não foi bem visto por vários dos presentes, especialmente
fãs mais veteranos do rei.
Após duas décadas em que o rei se
apresentou no Brasil era chegada a oportunidade única esperada por
tantos, inclusive pessoas de distantes Estados do Norte e Nordeste do
Brasil como pessoas de outras partes da América Latina como Venezuela,
Colômbia e Peru. Finalmente, as luzes se apagam e começa a introdução
com Out from the asylum com atores trazendo uma atriz
customizada como anciã numa cadeira de rodas, a qual encenava a “avó” do
rei. Eis que vem a abertura com Welcome Home do excelente Them (1988) com KING
entrando com maestria e Andy LaRocque desferindo seus riffs certeiros.
Era só o principio de algo mais que um show, mas uma demonstração da
arte em sua essência, pois havia os impressionantes arranjos e cenários
do palco, visto que trouxeram a estrutura que vem sendo utilizada nos
grandes festivais europeus, como também as encenações teatrais e os
jogos impressionantes e hipnotizantes de luz. E a qualidade sonora?
Simplesmente impecável.
KING DIAMOND e a atriz Jodi Cachia encenando Miriam Natias |
Além de KING e LaRocque
vale destacar o restante da banda que também fez bonito com Mike Wead
[guitarra, ex-CANDLEMASS, HEXENHAUS, MEMENTO MORI, MERCYFUL FATE etc),
Matt Thompson (bateria) e Pontus Egberg (baixo, ex-The Poodles). Outro
destaque foi a atriz Jodi Cachia que encenou Miriam Natias, a mãe de Abigail
na história do álbum. Além disso, o show foi muito mais do que a
execução do álbum Abigail na íntegra, pois ainda rolaram outros
clássicos executados de forma impecável como Sleeples night (de Conspiracy, 1989), Halloween (de Fatal portrait, 1986) e Eye of the witch (de The eye, 1990). O público também foi à loucura nas emocionantes execuções de dois clássicos do MERCYFUL FATE, primeiramente com Come to the sabbath com grande maioria cantando em uníssono. Após ela, KING pergunta: “Vocês querem mais ‘Mercy’?”. Ao público responder “sim”, ele diz: “vocês definitivamente merecem”. Eis que começa Melissa, cujo comecinho com o teclado e o vocal agonizante de KING foi de arrepiar.
Após a primeira parte do show com inserção destas elevadas doses de adrenalina, era hora da execução do clássico Abigail. Assim, logo começa a sorumbática introdução de Funeral, na qual a banda deixa o palco e KING acompanhado por atores pega uma boneca em um caixão que representa Abigail e a esfaqueia, tal qual na turnê do álbum em 1987. Em seguida vem a entrada triunfal dos riffs de La Rocque em Arrival, a qual juntamente com A mansion in darkness e The Family ghost constituiu
uma das trincas mais perfeitas que alguém pode assistir num show de
Metal e na qual me transportei para o universo de suas estórias. O
inicio dedilhado ao violão por LaRocque em The 7th Day of July 1777 também foi algo surreal e KING
ainda mostrou o boneco que representa o cadáver do bebê mumificado pelo
Conde La Fey na estória. O peso foi certeiro e efetivo em Omens, com o marcante refrão sob a inesquecível interpretação de KING:
“Oh, deadly Omens! Oh, deadly Omens!”. Além disso, que coisa mais linda
os solos de LaRocque nesta música, seguidos pelas passagens de teclado?
Indo para o fim do show, outra trinca de arrebentar: The possession, Abigail e Black horseman. KING
pergunta: “Ainda está tudo bem São Paulo? Eu acho que vocês sabem o que
vem agora. O que vocês me dizem?”. Então, começa o baixo de arrepiar de
The possession, com KING perseguindo “Miriam” pelas escadas da mansão que fazia parte do cenário do palco. Quando o rei vira-se ao público e anuncia Abigail
foi algo antológico, sem exageros. E que clássico hein? Com imensa
satisfação, mas certo pesar, aquela noite incrível se encerra com
maestria com Black horseman. Ao final, a banda deixa seus
instrumentos, chega à frente do palco e cumprimenta o público. O rei
para, olha o público, agradece e responde a cumprimentos dos presentes à
frente do palco. Torçamos para que seja lançado um DVD desta noite
épica e todos poderão comprovar o que aqui está escrito. Longa vida ao
Rei!