Por Ramon Teixeira
Músico profissional
e versátil, Wagner Gracciano, depois de três anos de trabalho, entre
composição, pré-produção e gravação acaba de lançar seu primeiro registro solo,
a odisseia musical Across the Universe . Num clima cinematográfico, nesse registro o guitarrista demonstra amplo
feeling e deixa transparecer óbvias influências de jazz, progressivo, black music, Classic Rock, fusion e Hard Rock. Nessa entrevista ele nos conta um pouco sobre sua
carreira.
Pólvora Zine: Fale um pouco sobre como você
iniciou a sua carreira.
Wagner Gracciano: Foi ainda criança em Arapuá, Minas Gerais,
pouco depois em Uberlândia ganhei um violão quebrado de uma tia que meu pai
correu em arrumar. Logo depois comecei a estudar violão erudito e tirar musicas
de ouvidos dos muitos discos que meu pai tinha. Toquinho, Led Zeppelin, Tom
Jobim, Bach, Van Halen, tinha de tudo em casa, desde o samba até o Heavy metal, e isso foi maravilhoso para desenvolver o ouvido e aprender à moda antiga. Logo
depois comecei a tocar na igreja e dar aulas. Mudando para Goiânia comecei a
acompanhar cantores e fazer pequenos shows.
P.Z: Para você, como é viver de música no
Brasil?
Wagner: É uma incógnita digna de uma longa
reflexão. Ao mesmo tempo em que vivemos num país que a cultura é algo que não
está disseminada pelo povo, os próprios músicos não se informam sobre o mercado,
produção, marketing, postura, ética, enfim, temos muito que reclamar, mas muito
mais para aprender. Se o músico conhecesse bem os caminhos e as atribuições de
sua profissão ia ser tudo mais fácil, porque pelo menos teríamos, independente
de governo ou situação, um cenário mais justo para nós. Se todos fossem profissionais organizados,
tivéssemos uma sindicalização eficiente de fato, aí sim, chegaríamos no ponto
de culpar o governo pela nossa situação (que é culpado de muita coisa mesmo). A
maior prova do que eu estou falando é grande parte dos músicos que lerem isso se
perguntarão: O que isso tem a ver? Resumindo, viver de música no Brasil é uma
tarefa extremamente difícil.
P.Z: O que você escuta de música? Você tem
um estilo musical preferido?
Wagner: Não consigo ter um estilo musical preferido.
Realmente escuto de tudo que é bom, sem demagogia. Sempre separo minhas
influências por artistas dentro do estilo. Por exemplo, dentro do country tenho
Bren Mason, Albert Lee, Vince Gill e vários cantores e bandas mais jovens, no
blues, Gary Morre, Joe Bonamassa, Eric Clapton, Buddy Guy, no jazz, Pat
Metheny, George Benson, Wes Montgomery, no Rock mais clássico, Mark Knopfler,
Jimmi Page, Jimi Hendrix, Steve Lukather, no Rock instrumental Steve Morse, Andy
Timmons, Trevor Rabin, assim vai. Separo ainda por bandas, onde Beatles está
sempre em primeiro lugar, cantores que não necessariamente priorizam a
guitarra, enfim, tento escutar tudo que é bom realmente.
P.Z: Sobre o registro Across the Universe, o que o inspirou para concebê-lo?
Wagner: Sempre fui fascinado por filmes e trilhas.
Acho que o músico tem o dever de contar uma história, compartilhar algo
verdadeiro. E acho que na música instrumental não é diferente. Infelizmente
estamos vivendo numa era que o instrumental serve mais para auto afirmação do
ego que para fazer música de verdade. Tocar guitarra e fazer os mesmo licks, um milhão de pessoas faz e se
enfrentam pela internet. Está cada dia mais raro ouvir música em sua essência.
E o que me inspirou foi contar várias fases da vida humana como um todo.
P.Z: O
nome completo do álbum é Across the
Universe: the beginnig and the end. Explique de onde surgiu este
título.
Wagner: Como disse anteriormente, eu tentei contar
minha visão das fases da humanidade. Sentimentos de raiva, vazio, felicidade,
solidão, onde nossa mente começa e acaba. E terminei tentando contar – influenciado
pelo fato de ser cristão – a visão bíblica e épica do homem na terra, tentando
contar o início em que ninguém estava lá para ver, e o final, que só podemos
imaginar. Independente de pregar dogmas ou religião, tentei apenas através da
minha crença mostrar minha visão de mundo contar o que sinto. Mas cada ouvinte
tem a liberdade de fazer o seu próprio mundo, e isso é o fantástico da música.
P.Z: Fale um pouco sobre a bela capa do
álbum.
Wagner: Foi criada pelo meu grande amigo Victor
Moura da Studio Plus, que cuida de todo o meu marketing visual. Na verdade é
uma foto verdadeira tirada por Sarah Duarte, mas transformamos para tentar
transmitir visualmente o que o álbum quer dizer. A ideia de um criador olhando
para o mundo e sua história, interagindo ou não, e no fundo as coisas se
consumindo. Mas como eu disse, a interpretação é livre para cada um. Todos nós
temos visões e histórias diferentes, seria pequeno da minha parte querer
condensar todo o reflexo da minha música à imposição do que eu acho ou não.
Dentro do encarte há passagens bíblicas que explicam o que eu quis dizer com
cada música e como foram importantes para transmitir a minha inspiração.
P.Z: Para a música “As a Prayer” você divulgou um espetacular videoclipe, com imagens
históricas de cultos pentecostais norte-americanos, manifestações contra o
racismo em que aparecem Nelson Mandela e Martin Luther King. Como surgiu a
ideia desse clipe?
Wagner: Na verdade o mesmo foi criado de forma
simples, eu mesmo o editei, não é um clipe profissional, que pretendo fazer em
breve. Aprendi a mexer um pouco no Final Cut uma tarde, e falei, porque não? (risos).
Fui criado na igreja, e sempre admirei a história e a importância desses cultos
para a história de luta racial, principalmente nos EUA. Mas não foi apenas
isso. Como essa música fala, a grande maioria de nós chega num ponto que só
resta uma prece, pois não temos mais nada a fazer humanamente falando. E esses
cultos, a entrega, a fé dessas pessoas, a luta desses líderes mostram muito
sobre isso. Todas essas pessoas que são mostradas no clipe, algumas sendo
presas, outras lutando, outras segregadas, esses líderes lutando contra o
sistema, todas recorreram ao último recurso, a prece. Isso é um sinal da nossa
entrega, de baixar a guarda quando não podemos mais lutar, e deixar Deus agir
aonde não temos força para agir. Mas cada um pode adequar à sua própria luta,
aquilo que nos leva ao limite extremo tanto da dor física, quanto da espiritual.
P.Z: Qual foi a ideia que fundamentou a composição
da peça “Across the Universe Part II”, dividida em quatro atos?
Wagner: Foi contar a história da humanidade pela
visão bíblica. Nem todos creem no cristianismo e na palavra de Deus, mas não
podemos negar que é uma incrível história que tem momentos épicos. E foi isso que
quis contar. Mostrar o início singelo que logo se torna tenso, as guerras, o
nascimento e morte de Jesus, fim do mundo, enfim, tentando condensar tudo numa
música só. Foi muito difícil, a música inicialmente tinha 32 minutos, então
decidi dividi-la em 4 músicas, para melhor compreensão. Mas quem não tiver a
mesma crença que eu, feche os olhos e seja influenciado pela música, crie sua
própria história da humanidade.
P.Z: Para a gravação desse registro você contou
com muitas participações. Com qual deles foi melhor trabalhar?
Wagner: Com todos, porque todos são amigos
pessoais, de dentro de casa mesmo. Não foram pessoas reunidas exclusivamente
por causa do disco. Já temos uma historia de trabalho juntos, nos estúdios,
escolas, shows, lutando pela música instrumental, enfim, estamos juntos a muito
tempo, e como são músicos incríveis de altíssimo nível, nada mais natural que
trabalharmos juntos.
P.Z: Obrigado pela entrevista. A palavra é
sua.
Wagner: Muito obrigado Ramon e Pólvora Zine pelo
espaço, fiquei muito honrado. Estou em fase de divulgação do disco, e graças a
Deus têm aparecido vários convites de workshops, master classes e tenho tocado
o disco ao vivo ou com playbacks. Para quem quiser contratar para algum evento
é só mandar um email para contato@wagnergracciano.com ou graccianoguitar@gmail.com e também pode me encontrar facilmente
pelas redes sociais e os vídeos de performances pelo youtube. O disco pode ser
ouvido pelo Soundcloud e também está a venda no iTunes, Amazon e outras lojas
virtuais, em breve pela loja virtual Guitar Shred. E aos meus colegas
guitarristas e músicos, valorizem a música, não vamos resumir nossa arte a 30 segundos
de solo em um vídeo no youtube. Temos muito mais a dizer.