KRIG: Além dos rótulos!


Por Écio Souza Diniz

A banda KRIG, integrante da grande cena extrema de Belo Horizonte, é atualmente um bom expoente do Death metal mineiro. Com músicas brutais e presença de palco marcante, eles já possuem um grande reconhecimento da cena underground, fazendo muitos shows, com muitos bangers agitando até o fim, e boas críticas da mídia especializada. Para nos falar mais sobre tudo que circunda a banda, o guitarrista Isaque Soares veio a nós e com bons argumentos.

Pólvora Zine: A banda surgiu em Belo Horizonte em 2007 e, de lá pra cá, tem produzido muito, fazendo shows, lançando discos, etc. Você imaginava que um simples projeto poderia tomar a proporção que é hoje?

Isaque Soares: Na verdade não. Quando eu e o Daniel iniciamos o projeto, a ideia era fazermos um tipo de som sem ficar preso a nada, sem rótulos, sem ritmos pré-criados, e sem o compromisso de fazer algum tipo de som que as pessoas já estejam esperando. Então, o mais legal foi isso, de algo que não esperávamos nada surgiu o KRIG que você conhece hoje.

P.Z: No mesmo ano, vocês lançaram seu primeiro álbum, “Feed me”, um disco brutal e orgânico, composto por porradas como: 'Bastard boss', '777' e 'Global warming'. Você já tinha o esboço ou as composições prontas, visto que era apenas um projeto com você e Daniel Corpse no vocal (SMASH THE SYSTEM, FOF, UNNAMED, MERCY e ex-SABBATARIAM), como únicos integrantes? Como foi gravar o restante dos instrumentos?

Isaque Soares: No “Feed Me”, eu fiz as baterias, guitarras e baixo, e eu e o Daniel trabalhamos nos vocais. Todo o material foi gravado em nosso home estúdio, e não tinha nenhum equipamento dos que temos hoje. Então foi gravado totalmente na raça e com a total falta de recursos.

P.Z: “Feed me” inicialmente seria distribuído pelo selo mexicano Alcance Subterrâneo, mas foi lançado de forma independente. O que foi limitante para ele não ser lançado pelo selo?

Isaque Soares: O lance do Alcance Subterrâneo foi uma total falta de palavra do idealizador do selo. O Mexicano Miguel nos prometeu coisas que não foi capaz de cumprir, então decidimos lançar por conta própria, o que depois descobrimos no futuro que foi muito melhor. Hoje, graças a Deus, não dependemos de selo nenhum, já temos toda nossa distribuição espalhada ao redor do globo.

P.Z: Falando de rótulos agora, o KRIG é considerada uma banda de Death metal, mas eu vejo que tem uma postura ao mesmo tempo bem Grindcore, devido a temática de suas letras, que tratam de várias coisas como religião, filosofia, alienação, manipulação dos meios de comunicação, anti-fascismo, etc. Qual sua postura e opinião quanto a isso? Você acha que esse seria um paradigma para a banda?

Isaque Soares: O KRIG nunca esteve atrelado ou anexado a um movimento em específico. Não temos nenhuma instituição por traz de nós dizendo como devemos fazer. Escrevemos coisas que pensamos no dia a dia, coisas reais. E claro, nossa banda tem um forte cunho político-social e base em nossos princípios, cujo principal é o da fé. Então as pessoas que nos conhecem saberão que estamos aí sempre para criticar, seja o sistema, seja a mídia, ou mesmo a própria igreja. Não estamos acomodados esperando que nos manipulem e digam o que devemos fazer ou não, queremos saber o verdadeiro fundamento de tudo.

P.Z: Em 2008, foi lançado o segundo álbum, “Stop the manipulation”, um trabalho já notável em termos de evolução nas composições, e uma temática voltada para alienação e manipulação da televisão sobre o indivíduo. A faixa 'Globo' é o melhor exemplo dessa abordagem, além de ser a melhor música do álbum. Já contando com July no baixo para gravação, qual foi a mudança significativa em termos de composição, visto que o primeiro trabalho não tinha o line up completo? E como você enxerga o tema abordado no disco?

Isaque Soares: Esse álbum, realmente, foi muito especial para nós. Primeiro por ter a participação do Luke Renno, vocalista da banda Norte Americana de Death Metal CRIMSON THORN, e também foi especial, pois nele decidimos levar uma linha mais Brutal Death metal. Esse CD é o mais rápido do KRIG e acredito também que tem elementos muito técnicos, alcançamos um nível de velocidade que digamos que foi o ápice do KRIG em velocidade. Esse álbum é muito especial também, pois ele é todo homogêneo no que se trata de temática: todas as músicas são exclusivamente centradas na manipulação da mídia. Acreditamos que a mídia é o 4º poder: grupos de massa são criados, o governo é colocado no poder, torcidas de times são montadas, uma religião execrada, as roupas e a comida que você come. Esses são alguns exemplos de o quanto a mídia está no seu dia a dia, e se você não estiver de olho aberto, você será mais um debaixo das cordas da marionete.

P.Z: No 3° álbum, “Target: human, mission: Destroy”, há uma atmosfera mais densa e pesada que nos antecessores. Eu creio que talvez seja devido às abordagens líricas do disco em músicas, como 'Chaos in the air', 'Fast food' e 'You will be hatred'. O que exatamente você quis dar enfoque nesse disco?

Isaque Soares: Sim, o 'THMD” é realmente o álbum mais pesado do KRIG. Ele tem a presença muito forte do Grindcore, o que deixou ele totalmente podre. No tema central do álbum queremos dizer que existe um mecanismo que tende a destruição, tudo hoje leva a destruição e estamos no meio desse alvo a ser destruído. Somos automaticamente odiados por nossas escolhas e as pessoas querem literalmente nos destruir, então a mensagem é essa.

P.Z: Como foi a divulgação e distribuição de “Target...” no exterior, visto que foi lançado com apoio do selo americano Nhmetal?

Isaque Soares: Sim, desde o “STM” já temos uma parceria firmada com o Jason da NH Metal. Ele sempre tem nos dado um apoio incondicional em distribuição, colocando os nossos materiais em lugares que jamais pensaríamos que estariam presentes.

P.Z: Após uma pausa, dada em 2009, vocês voltaram agora em 2010, já lançando o 4° trabalho de estúdio, “Narssistic mechanism”. Quem ouve os discos anteriores nota que ele tem uma mescla de todos os outros em suas músicas. No entanto, ao mesmo tempo, ele soa diferente, e talvez seja o melhor e mais maduro trabalho da banda até o momento. Como vocês buscaram por esse, digamos equilíbrio, em soar semelhante e ser diferente ao mesmo tempo?

Isaque Soares: Isso é exatamente o que buscamos, evoluir a cada CD. O dia que sentirmos que estamos gravando algo que já fizemos ou que estamos regredindo, essa será a hora de darmos uma pausa e refletirmos sobre o que estamos fazendo. Nossa meta é sempre estar crescendo a cada álbum, e por isso que estamos investindo pesado em equipamento e estudos para que o álbum sucessor ao “NM” seja o melhor álbum lançado pelo KRIG. Mas o lance de soar igual e diferente é mais nessa linha que lhe falei, sempre procuramos evoluir, mas qualquer música que você escutar, seja do “NM” ou “Feed me”, você vai dizer, essa banda é a KRIG. O segredo é mantermos a essência, porém evoluindo.

P.Z: Atualmente, vocês terminaram os shows da Narcissistic Brazilian Tour, que abrangeu várias localidades do país. Qual foi o saldo dessa tour?

Isaque Soares: Na verdade terminamos a tour agora no começo do ano, percorrendo alguns estados que não passamos. A tour foi totalmente positiva, agradecemos a todos que compareceram aos shows do KRIG neste ano de 2010. Foram 14 shows, passando por 7 estados e viajando quase 10 mil quilômetros. O ano de 2010 foi, sem dúvida, o melhor ano de nossas carreiras e podemos dizer que o público terá grandes novidades em 2011.

P.Z: A KRIG é oriunda de Belo Horizonte, o berço da cena extrema brasileira. O que você acha do cenário metálico da cidade atualmente?

Isaque Soares: Cena de BH já foi alguma coisa na década de 80, hoje não é nada, senão meia dúzia de bandas cismadas a True, com meia dúzia de fãs. Mas a KRIG, graças a Deus, quando toca aqui, pega um bom público. Estamos tentando tocar o mínimo possível em BH para a galera não enjoar da gente. No último show deu uma galera boa, então, resumindo, para nós tem sido legal, mas, no geral, tá muito fraco, o que ficou mesmo foi a fama, porque na prática....

P.Z: Concordo com você de certa forma, mas felizmente tem o outro lado: retorno de bandas clássicas de BH, dos anos 80, e o surgimento de novas bandas, que fazem um som autêntico como vocês, HAMMURABI, entre outras. Vocês possuem planos para uma tour no exterior?

Isaque Soares: Sim, se tudo der certo vamos anunciar datas logo, só aguardarem as notícias.

P.Z: Segundo consta as últimas notícias, vocês pretendem lançar um álbum duplo de tributo à diversas bandas de Metal cristão. De onde surgiu a ideia e o porquê de realizar esse lançamento?

Isaque Soares: Temos muito material trabalhado de covers, mas não existe uma data para o lançamento desse CD. Vimos que um material de covers pode ser muito perigoso para a banda, levando em consideração que as pessoas possam ter você como referência por um cover que você fez e não pela música que a banda faz. Então decidimos, por enquanto, dar um passo para trás nesse material, mas, quem sabe mais pra frente, quando tivermos o nome bem sólido, possamos pensar em retomar as atividades desse projeto.

P.Z: Realmente um álbum de covers é algo que pode ser pecaminoso para mascarar a imagem da banda. Fora a bem sucedida tour e o tributo às bandas cristãs, quais são os planos para 2011?

Isaque Soares: Para 2011, vamos terminar algumas datas da tour “NM” e, possivelmente, vamos lançar a coletânea de cinco anos e, também, um CD ao vivo com ótima qualidade de gravação. Possivelmente, todo esse material será lançado em um CD só e também virá com algumas surpresas, talvez uma faixa inédita.

P.Z: Valeu pela entrevista, sucesso e longevidade pra vocês!

Isaque Soares: Agradecemos pela oportunidade da entrevista e agradecemos também a você, por sempre estar nos dando força na nossa caminhada. Estejam nos apoiando e adquirindo nossos materiais. Fiquem na paz e fé sempre!
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