É evidente que não preciso narrar a importância da DORSAL ATLÂNTICA
para o Heavy metal brasileiro, visto que a história da banda se confunde com o
surgimento do underground nacional, além de ter sido um dos principais
responsáveis pela união de dois movimentos que não se davam: o punk/hardcore e
Metal. Claramente, foi uma tarefa um pouco árdua dissecar esta nova obra desses
cariocas que trouxeram à tona em suas músicas a realidade brasileira, através
de letras sobre violência, drogas, sexo comercial e a vida na periferia. Na verdade, essa inquietação com a nossa
realidade político-econômica e sociocultural sempre foram uma característica
forte das composições de Carlos ‘Vândalo’ Lopes, que inclusive foi o principal
responsável por todo o conteúdo de “2012”. Inicialmente “2012” pode ser um
tanto complexo para ser entendido, não por aspectos ruins, mas devido ao fato
de que aqui encontramos uma dorsal renovada e não menos dorsal. A precisão com
a qual o lado mais Metal da banda foi explorado, sem soar uma simples cópia de
si mesma e trazendo algo mais atualizado foi digna de atenção. A abertura do álbum
com os riffs certeiros e afiados da marcante e bem Metal ‘Meu filho me vingará’
dá uma boa noção do que pode ser encontrado no restante das faixas. Diga-se que
o solo da música citada é muito inspirado e cheio da ‘classe a lá dorsal’. Em ‘Stalingrado’
encontra-se outra pedrada não menos inspirada e com um gosto bem característico
do Hardcore característico que é um dos elementos que sempre esteve presente no
som da banda. O cunho nacionalista de ‘A invasão do Brasil’ traz em si além de um peso e agressividade que fazem jus ao
seu contexto, uma realidade bem atual que assola nosso país, que é a frequente imigração
de povos de várias partes do mundo, de lugares em crises e conflitos, buscando
em nossas terras uma forma de fugir, sendo que isto ao mesmo tempo
prejudica-nos de várias formas. Certamente, esta é uma das candidatas a
clássico aqui. O punk/hardcore malandro de ‘Eu minto, todo mundo mente’ é
propício para levantar uma boa roda de mosh. A fúria de ‘Colonizado/entreguista’
mostra mais uma vez a forma como muitos povos, sobretudo o brasileiro, aceita
imposições de outras culturas e essas tomarem o que a eles pertencem como seu. As
bases mais cadenciadas de ‘Corrupto corruptor’ e os vocais esganiçados de
Carlos nos refrãos fornecem o clima para o bom e velho bate cabeça. A tríade
que trata da época cinza da ditadura militar no Brasil constituída por ‘Comissão
da verdade’, ‘Operação Brother Sam’ e ‘Jango Goulart’ afirma mais uma vez
porque a DORSAL ATLÂNTICA é a banda de Metal mais brasileira de todos os
tempos. O destaque dentre as três faixas
vai para ‘Comissão da verdade’ com um refrão e bases que grudam na cabeça. A ‘Imortais’
é uma excelente homenagem aos fãs da banda que sempre apoiaram a banda e
ajudaram a concretizar este lançamento. Sem sombra de dúvidas a espera de 12
anos de silêncio desde o fim da banda valeram a pena!
Por Écio Souza Diniz
Por Écio Souza Diniz
Faixas:
1-Meu filho me vingará
2-Stalingrado
3-A invasão do Brasil
4-Eu minto, todo mundo mente
5- Colonizado/entreguista
6-Corrupto corruptor
7-168 BPM
8-Contenda
9-Comissão da verdade
10- Operação Brother Sam
11-Jango Goulart
12-Imortais