SHADOWSIDE: criatividade que gera crescimento!

Por Écio Souza Diniz

A SHADOWSIDE é na atualidade uma das bandas brasileiras de grande renome, não somente por aqui, como na Europa. Após o lançamento do ótimo Inner Monster Out (2011), a banda ainda está colhendo bons frutos , realizando diversos shows marcantes, além de ter tocado ao lado de ícones como Helloween, Gamma Ray e W.A.S.P. Para nos falar mais sobre o momento que a banda está vivendo, a frontwoman Dani Nolden concedeu essa entrevista exclusiva ao Pólvora Zine.

Pólvora Zine: Para começar, vocês esperavam que Inner Monster Out alcançaria a aceitação que tem recebido desde seu lançamento? Como foi o processo de composição deste álbum?

Dani Nolden: Não, não tem como esperar! Você torce, mas esperar, nunca. Seria arrogante demais! Por mais que todos na banda saibam do potencial do álbum, gostem de todas as músicas, nunca temos como saber se o mundo vai concordar com a nossa opinião sobre nosso próprio trabalho. Lançar um álbum é sempre uma aposta, uma tentativa e podemos apenas torcer pelo melhor, e o melhor que imaginávamos sem dúvida não era perto do que alcançamos com o Inner Monster Out. Fizemos esse álbum de forma completamente espontânea, sem pensar muito. Fizemos o que gostamos, porém tendo como desafio agradar quatro membros da banda que gostam de coisas completamente diferentes. Nós abraçamos as tais diferenças musicais ao invés de brigarmos por causa delas. Acho que isso que acabou dando esse toque especial ao álbum e agradou tanta gente.


P.Z: Um dos exemplos do reconhecimento do trabalho feito em Inner Monster Out foi sua presença na edição da Roadie Crew dos 60 grandes álbuns do Metal nacional. O que representou isso para vocês?

Dani Nolden: Foi uma honra, de verdade! Com o Inner Monster Out, já havíamos alcançado vários resultados incríveis. Alcançamos os 30 álbuns mais vendidos no Japão, ficamos por seis semanas seguidas nos top 15 dos álbuns mais tocados nos Estados Unidos, tendo alcançado a 9ª colocação, fizemos mais de 50 shows na turnê... mas o reconhecimento dentro do seu próprio país sempre tem um sabor especial, porque quem faz Metal escuta desde o primeiro dia de carreira que artista nacional não é valorizado, que é muito difícil chamar a atenção aqui. Porém, isso não vem acontecendo conosco. Tanto o público quanto a imprensa brasileira tem nos tratado maravilhosamente bem e eu os considero a base do nosso sucesso internacional.

P.Z: O amadurecimento musical e lírico atingido no referido álbum foi algo surpreendente, conseguindo transitar com eficácia e inteligência do Heavy ao Thrash.

Dani Nolden: Aquelas velhas diferenças musicais! Nós não tínhamos como objetivo transitar entre os estilos, mas acabou acontecendo porque nós gostamos de tanta coisa diferente que tentar agradar a todo mundo tornou isso uma necessidade. Precisávamos de um álbum que fosse pesado e visceral, porém muito musical, com melodias marcantes e bonitas... sem que isso se tornasse uma bagunça sem sentido. Nós entramos no estúdio desprovidos de ego. Compositores às vezes não gostam que mudem suas músicas, mas nós chegamos querendo a mudança por parte dos outros membros da banda. Eu e o Raphael chegamos no estúdio com metade das ideias iniciais cada um, porém o que você ouve no Inner Monster Out é completamente diferente das nossas primeiras demos. Nós cortamos algumas partes, adicionamos outras, mudamos estruturas, melodias e fizemos o verdadeiro exemplo de um trabalho em grupo.

P.Z: Vários são os bons momentos de Inner Monster Out, como em Gag order, a marcante Habitchual, a rápida In the name of love e a pesadíssima faixa-título. Quais destas músicas têm obtido melhores respostas nos shows?

Dani Nolden: Inner Monster Out, Gag Order que experimentamos e testamos durante a tour com o W.A.S.P. em 2010, Habitchual, Angel with Horns, Waste of Life. Penso que essas são as favoritas do álbum, tanto da banda quanto do público nos shows. Escutamos sempre excelentes comentários de In the Name of Love, mas essa é uma música que a galera gosta de observar. My Disrupted Reality também sempre abre algumas rodas (risos).

P.Z: Inner Monster Out traz também diversas participações especiais como a dos vocalistas Mikael Stanne (DARK TRANQUILLITY), Björn "Speed" Strid (SOILWORK), Niklas Isfeldt (DREAM EVIL) e Roger Moreira (ULTRAJE A RIGOR). Para você qual foi a principal contribuição de cada um desses nomes nas músicas?

Dani Nolden: Os suecos foram convidados para trazer um pouco da personalidade deles para nós, ao mesmo tempo que, nós levamos nosso mundo a eles. Levamos as melodias para eles, mas eles foram incentivados a mudar como achassem necessário. Nós não queríamos convidados pra encher o álbum de nomes, queríamos pessoas que fossem ao estúdio e realmente estivessem interessadas a dar vida a música, que quisessem fazer esse intercâmbio de arte, da forma de compor, de gravar. Pensamos no Roger já na Suécia. Ele havia nos dado a autorização para gravar a música e então decidimos convidá-lo para participar. Ele pediu para que enviássemos a música quando estivesse pronta... quando enviamos, ele gostou e aceitou o convite. Gravamos a participação dele em São Paulo. Foi algo sensacional, Roger é uma verdadeira lenda do rock brasileiro e tê-lo no álbum, cantando a música composta por ele, mas na nossa versão, foi incrível.

P.Z: O que os levou a incluir o cover para Inútil, do ULTRAJE A RIGOR?

Dani Nolden: Inicialmente, a vontade de termos uma música em português no álbum. Porém, não tivemos tempo para compor essa música. Eu sempre escrevi letras apenas em inglês, então escrever em português não vai ser uma tarefa fácil, nem rápida. Portanto, pensamos em Inútil, porque a letra ainda combina perfeitamente com o estado atual do nosso Brasil (risos).

P.Z: O W.A.S.P cedeu uma grande oportunidade à SHADOWSIDE para que atingisse em massa o público europeu. Fale sobre como se deu essa parceria e dividir o palco com Black Lawless.

Dani Nolden: Seremos eternamente gratos ao W.A.S.P. Eles nos deram uma chance que ninguém mais queria dar, não porque não gostassem da banda, mas porque não nos conheciam como pessoas. Ninguém quer arriscar levar para uma turnê de dois meses uma banda problemática, que se atrasa, que perturba... e ninguém tinha como saber que nós não éramos assim. Mas o W.A.S.P. decidiu que merecíamos a chance e nunca esqueceremos isso. Blackie é um cara extremamente reservado. Ele passa o tempo todo sozinho ou com a esposa. Nós chegamos ao primeiro show apavorados com todas as histórias sobre ele, de como ele é um problema, e ele, na verdade, era praticamente invisível. As regras eram rígidas e tudo era muito profissional o tempo todo, porém era tudo muito claro e nunca tivemos problemas. Sempre tivemos total condição de fazer o nosso trabalho e sempre tínhamos tudo que precisávamos. Fomos muito bem tratados por todo mundo no WASP e pelo público europeu.

P.Z: Em 2013, vocês também fizeram uma bem sucedida turnê europeia com HELLOWEEN e GAMMA RAY. Como se deu esse convite para abrir os shows destas bandas? Quais foram os melhores momentos desses shows?

Dani Nolden: Nós já havíamos feito alguns shows com o Helloween em 2006 aqui no Brasil. Como tudo correu bem daquela vez, desde então perturbamos o manager deles pedindo a chance de uma turnê europeia (risos). Sempre recebemos um “não”, então dessa vez novamente entramos em contato, mas praticamente esperando a negativa, mas eles nos surpreenderam dizendo “ok, se vocês quiserem nos acompanhar durante toda a turnê, o lugar é de vocês”. Alguns dos melhores momentos foram o público na Polônia, que estava tão insanos que até os seguranças estavam batendo cabeça, a galera na Grécia gritando “Shadowside”, o fato de termos sido a primeira banda brasileira de Heavy metal a pisar nos palcos do Olympia, em Paris, casa fundada em 1888 por onde já passaram artistas como The BEATLES, JIMMY HENDRIX, ELIS REGINA etc. Foram alguns momentos bem marcantes na carreira da banda.

P.Z: De onde surgiu a ideia de gravar o videoclipe para Habitchual (um dos grandes destaques de Inner Monster Out), no centro histórico de Santos (SP).

Dani Nolden: A banda nasceu em Santos. Mas nunca gravamos um videoclipe em alguma parte interessante da cidade. O centro histórico é um lugar que combina a arquitetura bela com lugares destruídos e abandonados, é perfeito para a gravação de um clipe! Já fizemos todas as cenas da atriz na frente do prédio dos Correios. Temos mais dois locais em mente para fazer as cenas da banda tocando. Essa filmagem deve acontecer em Fevereiro ou Março.

P.Z: A SHADOWSIDE também fez ótimos shows no Brasil em 2013 ao lado da banda SUPREMA. Em quais regiões e/ou locais sentiram um melhor ‘feedback’ do público?

Dani Nolden: Esses shows foram legais em todas as cidades que passamos! Ao final do show fazíamos uma jam que deixava o público insano. Foi muito divertido, mostramos aos fãs que é possível sim unir duas ou mais bandas para fazer algo interessante, diferente. Tocamos em Manaus, Limeira, Jundiaí, São Paulo. Todos os shows foram incríveis!

P.Z: Numa entrevista recente ao portal da Agencia Yaih, você expressou sua opinião sobre as mulheres que usam a beleza como forma de ganhar respaldo no Metal. Você acha que ainda hoje há uma resistência a presença de mulheres em bandas de Rock e Metal?

Dani Nolden: Não, não acho. Acho que há resistência apenas quando exatamente essa situação acontece. Mas isso acontece com os homens também. Ninguém leva a sério alguém que está em uma banda para supostamente fazer música, mas faz com que as pessoas prestem atenção primeiro a outras coisas que não estão relacionadas a música. Não tem nada de errado uma mulher ser bonita, mas tem que existir um limite. Não podemos ser modelos! Somos membros de uma banda de Metal! Vaidosas, mulheres, mas não modelos! Todo mundo quer ouvir boa música e ninguém vai deixar de ouvir boa música porque é uma mulher cantando ou tocando. Mas eu acredito que exista certa resistência por qualquer um que seja mais imagem que música. Passa a impressão de que sua música não é boa o suficiente para chamar atenção sozinha.

P.Z: Ainda sobre o tópico ‘beleza feminina’, como é para você a sua consideração por mídias e público como uma das musas do Metal?

Dani Nolden: Estranho. Parece que não estão falando de mim (risos). Eu não me vejo dessa forma, não me sinto dessa forma. Pra mim, estão falando de outra Dani (risos).

P.Z: Tem aparecido noticias que vocês estão se preparando para fazer o novo álbum, isso procede? Ele será também realizado sob a tutela de Fredrik Nordström (guitarrista do DREAM EVIL e produtor que já trabalhou com bandas como EVERGREY, ARCH ENEMY e DIMMU BORGIR)?

Dani Nolden: É bem provável que sim! Pela primeira vez queremos repetir o produtor, porque nos demos muito bem com ele, ele entendeu exatamente o que a banda estava buscando, mas a gravação foi curta. Trabalhamos com Fredrik e Henrik Udd por apenas 25 dias e sentimos que ainda há muito a ser descoberto musicalmente nessa parceria. Estamos trabalhando em músicas novas, sim. Assim que elas estiverem prontas, já começaremos a enviar ao Fredrik para trabalharmos na pré-produção com ele.

P.Z: Paralelamente à SHADOWSIDE, você recentemente você assumiu os vocais da SPHAERA ROCK ORCHESTRA (projeto que mescla música erudita ao Rock, sendo que já teve a participação de Andreas Kisser - SEPULTURA e Rafael Bittencourt - ANGRA). Qual tem sido o saldo dessa experiência?

Dani Nolden: A melhor forma de descrever o Sphaera Rock Orchestra é chamá-la de “orquestra de Rock”. É como o Alexey Kurkdjian, o maestro, chama a banda. A experiência tem sido fantástica. Cantar com uma banda é completamente diferente de cantar com uma orquestra, é outra interpretação, outra dinâmica de show, é como se eu fosse mais um instrumento da orquestra e não a “frente” de uma banda. A frente, nesse caso, é o maestro e tem sido um grande desafio. O plano agora com o Sphaera Rock Orchestra é começar a compor, pois até o momento, tem sido um projeto que faz versões de grandes clássicos, mas provavelmente agora o grupo irá um passo a frente com composições próprias.

P.Z: Quais são os planos imediatos para 2014?


Dani Nolden: Temos mais alguns shows pra fazer em 2014, porém no intervalo trabalharemos em músicas novas. Finalizaremos o videoclipe de Habitchual, que encerrará o ciclo do Inner Monster Out. Depois dele, não lançaremos mais nada desse álbum e será o momento de trabalhar nesse material novo enquanto tocamos nos lugares onde ainda não fizemos shows aqui no Brasil. Ainda tem muito lugar pra visitar e não queremos ficar longe dos palcos enquanto fazemos o novo álbum, afinal nos alimentamos da energia do público. Imagino que começaremos a gravar ainda este ano, mas não tenho certeza do momento, pois não queremos apressar o processo de composição. De qualquer forma, ficaremos ocupados e contaremos as novidades sempre que elas aparecerem!