Texto: Écio Souza Diniz
Fotos e vídeos: Écio Souza Diniz e Carlos Franco
A noite do dia 6 de dezembro começou relativamente fria na área central de Barcelona. Mas isso não era um problema, pois o death metal oldschool dos britânicos do Cancer e dos holandeses do Pestilence vinha para esquentar os motores do público presente. Como o descrevo a seguir, combustível não faltou para deixar o corpo com a ignição ligada.
O evento ocorreu no espaço da Sala Wolf no coração do bairro industrial de Poblenou, próximo à área central de Barcelona. A Wolf, inaugurada em 2018, tem se firmado como peça estratégica da música ao vivo na cidade, acolhendo desde bandas underground até turnês internacionais fora do circuito comercial. Com uma boa infraestrutura, foco em som bem tratado, palco próximo do público e agenda constante, o espaço ajuda a sustentar uma cena ativa de estilos alternativos.
Por volta das 20:50 horas do horario local, o death metal cru do Cancer dava início à pancadaria. Formado em 1987, em Ironbridge (Inglaterra), o Cancer teve papel fundamental na consolidação do death metal no Reino Unido, especialmente com o álbum To the Gory End (1990). Ao combinar a brutalidade do death metal com a precisão do thrash, o grupo ajudou a dar identidade própria à cena extrema britânica e abriu caminho para outras bandas do gênero. Atualmente, a banda está estabelecida na capital española, Madrid, e é composta pelo fundador John Walker (guitarra e vocal) e único membro da formação clássica original, acompanhado pelos músicos espanhóis Daniel Maganto (baixo), Gabriel Valcázar (batería) e Alberto García (Sacthu, guitarra) ao vivo em substituição temporária ao guitarrista Robert Navajas.
Neste show Walker e seus companheiros já escancaram logo no início o poderío sonoro atual do Cancer com a excelente Enter The Gates que abre o novo álbum, Inverted World (2025). Desse álbum também tocaram as ótimas faixa título, Amputate e Until They Died, que funcionam muito bem ao vivo e receberam ótima recepção do público. Claro, que os clássicos oldschool como Into the Acid de To The Gory End e Tasteless Incest de Death Shall Rise (1991). Também se destacaram em Garrotte de Shadow Gripped (2018). Num balanço geral, a performance do Cancer foi consistente com seu legado, proporcionando um show consistente e que nem mesmo pequenas falhas técnicas no retorno da segunda guitarra ocasionadas pelo controle da mesa de som prejudicaram a entrega que deram. Seguramente, os apreciadores veteranos da banda, como eu, apreciaram atentamente todas as músicas.
A agressividade crua do Cancer deu lugar a brutalidade técnica do Pestilence. Criado em 1986 na cidade de Enschede (Holanda), o Pestilence teve papel decisivo na evolução do death metal ao introduzir maior complexidade técnica e estruturas mais elaboradas no gênero. Com Consuming Impulse (1989) e Testimony of the Ancients (1991), a banda ajudou a estabelecer o death metal europeu como mais progressivo, preciso e musicalmente ambicioso. A atual formação da banda traz o fundador Patrick Mameli (guitarra e vocal), Max Blok (guitarra), Dario Rudić (baixo) e Michiel van der Plicht (bateria). Contudo, o baixista Roel Käller (Mayan) ainda segue terminando de cumprir agenda de shows com a banda, como o presente evento em Barcelona aquí descrito.
Com um reportório indo desde os clássicos oitentistas até destaques de peso do decorrer dos anos 2000 como Morbvs Propagationem de Exitivm (2021) e Devouring Frenzy e Horror Detox de Resurrection Macabre (2009), o Pestilence entregou levantou uma consistente muralha sonora e forte presença de palco. Contudo, o alvoroço do público veio com as eternas Chronic Infection, Out of the Body e The Process Of Suffocation de Consuming Impulse. Entretanto, o foco maior foi no visceral Testimony of the Ancients (1991), do qual tocaram as indefectíveis Land of Tears, Prophetic Revelations, The Secrecies of Horror e Twisted Truth. Essas levantaram os maiores moshes do show. Mameli sempre positive em sua comunicação com o público, terminou o show os agradecendo e desejando que sempre cuidem de suas saúdes para vir bem, através de comer bem, ir malhar e evitar excesos de álcool e drogas.
Neste clima amistoso, comum dos eventos na Espanha, termina essa noite de catarse death metal nos deixando ainda eufóricos e cedentos por mais pancadaria sonora, mas ao mesmo tempo satisfeitos com o que assistimos.


