Por Écio Souza Diniz
A TUATHA DE DANANN, uma das bandas mais criativas já surgidas no cenário do Metal nacional, ao longo de sua carreira conquistou um público fiel, especialmente em sua região de origem, no Sul de Minas Gerais e ainda estendeu sua arte ao renomado festival Wacken Open Air em 2007. A característica que fez a banda conhecida foi a prática de um Heavy metal mesclado ao contexto e instrumentos típicos da cultura celta. Após uma pausa indeterminada em suas atividades que se iniciou em 2010, a banda recentemente tem empreendido seu retorno efetivo, e é exatamente para nos falar a sobre este e outros fatos que tivemos essa conversa exclusiva com o vocalista/guitarrista Bruno Maia.
Pólvora
zine: Primeiramente, qual foi a maior motivação para o retorno definitivo da banda?
De quem partiu a iniciativa?
Bruno:
Na verdade, por mais que tenhamos passado um tempo meio estranho, nunca
brigamos feio na banda. Eu saí numa época que eu não via tanto sentido mais pra
eu continuar ali. Saí e deixei a banda que eu criei para os caras seguirem e eu
poder me concentrar nas minhas coisas, no meu tempo e tudo mais. Acabou que a
banda não continuou, dois tuathas (Berne e Giovani) montaram uma banda, o TRAY
OF GIFT, e eu, Abreu e o Edgard montamos o KERNUNNA. Não foi nada feio nem muito
sério, tanto que tocamos nuns Roça´n´Roll depois etc... O que houve foi que
vimos que qualquer problema que podemos ter tido era muito menor que tudo que
passamos, criamos e enfrentamos juntos. A gente se conhece desde moleque, a
amizade e nossa história juntos é muito mais legal e maior que qualquer
desavença antiga.
P.Z:
O diferencial da TUATHA DE DANANN foi a proposta de letras interessantes e
divertidas sobre duendes, natureza e tudo de mágico que cerca este mundo. Como
você enxerga a carreira da banda, desde sua fundação em 1994?
BRUNO MAIA |
Bruno:
Acho que o diferencial maior é a parte musical: as flautas, bandolins, as
diferentes vocalizações e mesmo a atmosfera das músicas. Claro que as letras
destoam um pouco do habitual, mas acho que o forte é o tipo de composição da
banda. Enxergo nossa história com muito orgulho e satisfação. É muito difícil
uma banda do interior de Minas Gerais, sem empresário forte, sem dinheiro pra
pagar por tudo e sem noção como éramos chegar onde chegamos. Tocamos em tudo o
que é buraco, em situações adversas e até cômicas, mas sempre levando na boa,
sem muito stress e funcionou. Acho nossa história foda!
P.Z:
Dentre os vários shows de vocês que assisti, um dos que mais me lembro foi o da
edição de 2011 do festival Roça and Roll, no qual um grande público cantou
quase todas às musicas inteiramente. Quais são suas melhores lembranças em
termos de shows e o que acham da figura da banda no referido festival?
Bruno: Realmente esse show foi
demais, pois eu tinha acabado de sair da banda, e o povo começou um coro
altíssimo "Hey Bruno, volta pro Tuatha!" ....foi emocionante ver o quanto
tínhamos valor pra galera. O Tuatha e o Roça têm uma história parecida: os dois
nasceram e se mantiveram por muito tempo movido à paixão e vontade. Tudo muito
na unha mesmo. E quando o Roça começou, a única banda de mais nome que tocava
no evento era o Tuatha, isso, com certeza deu uma força a mais pro Roça e
ajudou- o a se destacar na cena em seus primórdios. E, na contramão, posso
dizer que nessa época, como o Tuatha já tinha um nome mais bem estabelecido e
aqui na região não tínhamos ainda tantos festivais legais como hoje, o Roça
ajudou o Tuatha a sedimentar seu nome em nossa área, pois era a única forma da
banda se apresentar aqui pra tanta gente, já que sempre foi meio inviável fazermos shows em
cidades pequenas do Sul de Minas. E o louco é que hoje em dia, depois de tanto
tempo, mesmo o Roça sendo o que é, uma referência, com atrações internacionais
e tudo mais, posso dizer que o Tuatha é sempre uma das bandas mais esperadas. É
muito louco isso!!!
P.Z:
Sim, me lembro bem disso. Foi bacana ver a galera falando pra você voltar,
valorizando a banda. Houve uma energia muito legal naquele show. Ao mesmo tempo
foi engraçado, porque falaram isso várias vezes (Risos).
P.Z:
O primeiro destaque para a banda foi alcançado com o segundo álbum, “Tingaralatingadum”,
e mais adiante vocês ainda surpreenderam com o ultimo álbum, “Trova di Danú”.
Você acha que estes trabalhos tem superado a prova do tempo?
Bruno:
Realmente estes são os nossos discos mais mais, sabe? No “Tingaralatingadum” a
gente conseguiu deixar de lado uma carga extrema e até meio Dark e abraçar mais
o que nossa música se tornaria depois: um lance mais alegre, festivo etc... e
com o “Trova di Danú” a gente deu uma 'progressivada' a mais e conseguimos a
produção e qualidade que sempre quisemos. O Trova é meu favorito!
P.Z:
Sempre surge para muitas pessoas uma duvida: por que já a um bom tempo são
tocadas poucas musicas do primeiro álbum, o autointitulado, “Tuatha de Danann”?
Bruno:
Geralmente o tempo de um show não passa de 80 ou 90 minutos. Se for festival é
uma hora no máximo, daí temos de tocar as mais conhecidas e esperadas da
galera, que em sua maioria estão nos trabalhos seguintes. E é meio como eu
disse: até esse primeiro CD, o "Tuatha de Danann", acho que ainda
procurávamos o nosso som verdadeiro; você escuta esse álbum e percebe
nitidamente como as músicas não tem muito a ver uma com a outra. Isso é até
legal, mas mostra que era uma banda ainda a procura de desenvolvimento. Mesmo
assim tocamos ‘Us, e às vezes ‘The Bards Of the Infinity’ ou ‘Tuatha de Danann’.
P.Z: Como
foi a recepção à banda na edição 2005 do Wacken Open Air, na Alemanha?
Bruno:
Foi foda! Não esperávamos nada, de verdade. Só de falar que pisamos no palco do
Wacken já era a realização suprema. E o mais legal é que fomos convidados, não
fomos por concurso etc... Acabou que lá a gente estava concorrendo sim, sem
saber, e acabamos ganhando o prêmio de maior banda internacional. Foi demais!
P.Z:
O que os fãs da banda podem esperar deste retorno? Haveria um possível novo
álbum sendo planejado?
Bruno:
Estamos com muita vontade de fazer um disco pra nos orgulharmos dele, o que
acredito ser o mais importante. Estamos fazendo uns shows agora pra desenferrujar
e pra sentir de novo a magia que é tocar Tuatha com o Tuatha e com o público
tuathero e para o ano que vem vamos ver esse lance do disco.
P.Z:
E tal disco pode ser algo além do que já fizeram ou seguiria as sonoridades
conhecidas acerca da banda?
Bruno:
Com certeza carregará o que é característico no Tuatha, mas deverá trazer um
diferencial sim, para o bem ou para o mal.
P.Z:
Ademais como estão seus projetos BRAIA e KERNUNNA? Aliás o KERNUNNA lançará o
debut agora em setembro. Fale sobre isso.
Bruno:
O BRAIA tá meio parado. Sempre foi um grupo muito difícil de fazer virar, muita
gente, um som diferente demais que não se encaixa em quase nada (isso pra mim é
o must) e isso nos rendeu poucos shows, 11 eu acho e demos um tempinho. O KERNUNNA
é um projeto/banda que eu to mega realizado musicalmente com ele. Os músicos da
banda são muito feras, talentosos, legais e as músicas eu realmente adoro.
Mesmo que quatro delas sejam músicas que estariam no disco do Tuatha que
deveríamos ter gravado antes da ruptura, elas já carregam esse teor de
novidade, algo mais progressivo e aberto. Acho que é o meu melhor trabalho até
hoje.
P.Z:
O que está pro trás do termo KERNUNNA? A capa do disco ficou excepcional, você
passou o conceito ao artista gráfico para que a fizesse?
Bruno:
‘Kernunna’ é uma corruptela do nome de uma entidade presente no imaginário de
quase todo o território celta, o deus Cernunnos ou Kernunos e até outras
formas. Era uma entidade, deus, que representava o lado masculino, a
virilidade, fertilidade, muitas vezes o Sol e é uma das representações mais
antigas encontradas entre os antigos celtas. Mas colocamos ‘Kernunna’ pra
dificultar encontrar bandas homônimas na net etc. Sim passamos o conceito para o
artista e ele debulhou, se chama Diego Moscardini.
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