Resenha: MOTÖRHEAD + GIRLSCHOOL + SAXON – Düsseldorf (Alemanha). Novembro 2015.

Por Écio Souza Diniz

Quem diria que o show que eu fui para assistir do MOTÖRHEAD de sua turnê comemorativa de 40 anos de estrada dia 17 de Novembro de 2015 em Düsseldorf (Alemanha) seria um dos últimos suspiros de Lemmy Kilmister, que veio a falecer dia 28 de dezembro do mesmo ano. Pois então, a vida nos surpreende. Por pouco eu ficaria sem ter visto este ícone do Metal/Rock and Roll. Mas felizmente e com tudo conspirando a favor, no dito dia estava eu pegando o trem da cidade que eu residia, Münster, que fica à duas horas de Düsseldorf, e com um clima estável e não chuvoso, eu cheguei mais cedo na cidade para fazer um tour turístico, visto ser uma das mais belas do Estado de Westfalen. Ao  chegar no  Mitsubishi Electric Halle com três horas e meia de antecedência ao show, eu ainda era um dos únicos no local e isso me encheu de expectativas, duvidas e ansiedade. Mas à medida que ia escurecendo, mais e mais pessoas iam chegando, sendo boa parte do publico composto por coroas por volta de 40 a 50 anos de idade, alguns customizados no estilo ‘Lemmy de ser’. Mas o mais legal era ver pais levando seus filhos de 11 anos de idade para baixo para ver o MOTÖRHEAD e as bandas de abertura, GIRSCHOOL e SAXON. Após entrar na casa de shows foi impressionante como lotou rápido, como se maior parte da audiência tivesse chegado de uma vez só.  

Para começar entraram as britânicas do GIRSCHOOL, hoje a banda de Rock composta somente por mulheres que está a mais tempo na ativa. Embora, seu set foi apenas pouco mais de meia hora, elas nos proporcionaram um show cheio de energia, tocando musicas rápidas com pegada punk, sendo as melhores e mais explosivas performances em Take it like a bandCome the revolution e Kick it down. Todas elas estavam afiadíssimas, dando destaque a excelente guitarrista Jackie Chambers e a baixista e vocalista Enid Williams. 

Embora tenha sido um show bem bacana foi apenas um aperitivo, preparando terreno para os também veteranos da clássica SAXON, um dos maiores nomes da NWOBHM, que é também consagrada nos quatro cantos do mundo. A presença de palco e técnica de Biff Byford (vocal), Paul Quinn (guitarra), Doug Scarratt (guitarra), Nibbs Carter (baixo) e Nigel Glockler (bateria) é algo surreal que faz você se sentir no meio de uma batalha na antiga Bretanha, travada por saxões. O set list foi recheado de petardos, tanto mais atuais quanto os clássicos dos anos 80. Dentre os sucessos mais recentes, o destaque ficou a cargo da faixa titulo de Sacrifice (2013) e a faixa titulo do novo álbum, Battering ram (2015). Mas se é clássico que você quer, tome Motorcycle manPower and the glory (na qual Byford dividiu o publico para ver quem cantava mais alto), a eterna Crusader, Heavy metal thunderPrincess of the nightWheels of steel e fecharam com Denim and leather. É impressionante como caras cuja maior parte deles já ultrapassa a casa dos 50 anos de idade – o mais novo na banda no momento é Nibbs Carter com 49 anos – conseguem ser tão cheios de energia, cativantes e carismáticos. E a voz de Biff ? Continua segurando a bronca sem o menor problema, em alguns momentos ela parece até melhor. Em suma, o SAXON fez uma excelente abertura para os anfitriões da noite.
Depois de uma relativamente rápida organizada do palco pela equipe do MOTÖRHEAD, as sirenes começaram a soar nos falantes e eis que surge o mestre Lemmy, seguido de Phil Campbell (guitarra) e Mikkey Dee (bateria), mandando ver com a faixa titulo de Bomber (1979), e aí foi o primeiro momento que o avião que faz parte da iluminação começou a se mover descendo e subindo, tornando o espetáculo com exponenciais expectativas positivas. Na sequencia as pedradas de Stay clean e Metropolisfaziam a todos nós enlouquecer, seguidas pela ‘bluesy’ When the sky comes looking for you de Bad magic(2015). No intervalo desta para Over the top, Lemmy apontou para a bandeira da França acoplada no avião acima e fez um discursso sobre o quanto é idiota a mistura de politica e religião, referindo-se aos atentados ocorridos na França naquele mesmo mês. Embora, visivelmente ele parecia mesmo cansado e doente, em momento algum ele teve uma performance meia boca e segurou a onda do inicio ao fim, executando a todo vapor os clássicos da banda com sua icônica voz rouca. Campbell parecia estar ligado no 220 W naquela noite, pois o cara fazia tudo com um feeling invejável. Um dos momentos mais legais também foi quando tocaram a cadenciada Lost woman blues de Aftershock (2013) para dar aquela viajada e tomar um folego. Acabou? Claro que não, estamos falando do MOTÖRHEAD. Para exaurir-nos de tanto bater cabeça ainda houve as pedradas com Doctor Rock, a execução perfeita de Orgasmatron (na qual fiquei totalmente alucinado), No class,Ace of spades e a ‘country’ Whorehouse blues de Inferno (2004), não executada ao vivo desde 2011, na qual Lemmy mandou ver na gaita. Para fechar sem sombra de duvida de que este foi um show memorável, apesar das dificuldades, eles estouram os falantes com Overkill, com efeitos de luzes, o avião se mexendo pra lá e pra cá, super solos de guitarra e o final com Lemmy e sua clássica e mais bem descritiva frase sobre a banda: “Obrigado. Nós somos o Motörhead e nós tocamos Rock and Roll”. Quando deixei o local, ainda pensei que tudo que mais gostaria era vê-lo novamente e curado. Mas o corpo muitas vezes é nosso pior inimigo, e não há como brigar com ele e faze-lo aguentar todos os excessos que este símbolo máximo do Rock e Metal viveu. Mas viveu com maestria e em plenitude, sem economias ou medo do futuro e sempre será lembrado como o cara mais batuta do nosso amado estilo musical: o Rock and Roll. Esteja bem, bebendo seu Whiskey, tocando e jogando poker no inferno Lemmy!



Écio Souza Diniz (Editor do Pólvora Zine)