SURRA: a música como manifesto!


Por Ramon Teixeira

Remanescentes da banda LIKE A TEXAS MURDER, Leeo Mesquita (vocal e guitarra), Guilherme Elias (baixo e vocal) e Victor Miranda (bateria) formaram o SURRA em 2012 na cidade de Santos (SP). Em sua trajetória de quase seis anos de história já cruzaram o país de norte a sul e acumulam um DVD ao vivo, uma turnê pela Europa, um EP, uma discografia recheada de discos ao vivo, vários videoclipes e dois álbuns completos, dos quais, a banda segue em divulgação do mais recente Tamu na Merda (2016). Enfim, com uma carreira em ascensão no cenário underground a banda não para. Com previsão de lançamento de um EP ainda para o primeiro semestre desse ano, a banda promete tomar de assalto mais uma vez o cenário brasileiro com seus shows intensos e politizados. E para falar sobre tudo isso, o PÓLVORA ZINE teve o prazer de entrevistar Leeo. Com vocês, SURRA!

Pólvora Zine: Este ano a banda completa seis anos de existência. Como vocês avaliam essa trajetória até aqui?

Leeo Mesquita: Salve, pessoal do Pólvora zine! Obrigado pela oportunidade. Bom, quando a gente montou o SURRA em 2012 não esperávamos fazer nem metade que já fizemos até agora. Digo isso no sentido das “conquistas” como uma banda do underground mesmo. Estamos sendo chamados para festivais um pouco maiores, gravando em estúdios de nossa preferência, tocando em vários lugares do Brasil e até fizemos uma turnê na Europa... é bem louco pensar que tudo isso foi e está sendo possível! A trajetória está sendo cansativa, mas valendo a pena. 


P.Z.: Ao escutar o som da banda é possível observar uma miscelânea que vai do Metal Extremo ao Punk Hardcore/Crossover. Quais são as principais influências do Thrashcore da banda?

Leeo: Isso varia bastante. A gente escuta de tudo e a cada período de composição a “vibe” é diferente. A base no início da banda sempre foi o Thrash Metal/Punk/Hardcore (KREATOR, SLAYER, SEPULTURA, RATOS DE PORÃO, PAURA, etc.). Mas ao longo do tempo fomos enveredando para lados mais extremos como o Thrashcore, o Grind e o Death Metal. A gente não coloca limites para compor, se soa bem pra gente, transformamos em música.

P.Z.: Tanto nos shows quanto na página da banda no Facebook, vocês orientam os fãs a prestarem atenção nas letras das músicas que eles escutam. Não é toda a banda que bate nessa tecla. Por que vocês insistem nessa ideia?

Leeo: Se a música tocada se presta a fazer críticas ou protestar sobre algo, ter seu manifesto lido é o mínimo esperado. Não acho que toda banda ou artista deva ficar se politizando nas suas letras. Nós mesmos curtimos música instrumental, músicas com letras de cunho pessoal, etc. Mas quando se trata de uma arte que imprime nela uma mensagem, essa mensagem está esperando ser absorvida. No nosso caso, a mensagem está muito entranhada na letra e absorve-la nada mais é que ler e refletir.


P.Z.: Não é tão recente no país bandas de música extrema cantarem em português (DORSAL ATLÂNTICA e RxDxP, por exemplo), todavia, recentemente temos visto uma profusão de bandas no cenário que tem priorizado cantar nessa língua, tal como o SURRA. O que na opinião de vocês explica essa orientação? O que levou a banda a fazer essa escolha?

Leeo: Já cantávamos em português na nossa banda anterior ao SURRA, acho que isso acabou influenciando. Mas de uma forma geral, acredito que esse aumento do número de bandas extremas com letras cantadas em português foi natural. O público underground já vinha perdendo esse “preconceito” ao longo dos anos. No punk e no hardcore sempre foi mais comum usar o português, já no metal (muito por conta das referências como SEPULTURA, KORZUS, etc.) tinha uma resistência maior. Lembro quando eu conheci o CLAUSTROFOBIA e me amarrei nas músicas em português deles. Eu tava no colegial ainda, mostrei para alguns amigos e fui zoado pra caralho (risos). Acho que isso foi se perdendo e o pessoal acabou aderindo.

P.Z.: Nesse momento de acirramento político, para uma banda que circula por diversas casas de show e festivais pelo país, vocês já passaram por alguma situação desagradável devido a sua posição antifascista?

Leeo: Sim, mas foram bem poucas vezes. Em show do SURRA é difícil colar pessoas que são abertamente preconceituosas e irredutíveis quanto a isso. Como a banda deixa claro seu posicionamento, isso acaba filtrando um pouco. Já aconteceu de nos xingarem, atacarem coisas, saírem andando no meio do show mostrando o dedo do meio (risos), acontece.

P.Z.: Desde Bica na Cara (2012) que a banda tem dado seu recado direto contra as opressões, porém, é com Tamu na Merda (2016) que vemos uma dura crônica da realidade brasileira vir à tona em forma de música. Como foi o processo de criação desse disco?

Leeo: O Tamu no Merda foi composto no segundo semestre de 2015/primeiros meses de 2016. Nessa época, assim como agora, não nos faltaram acontecimentos absurdos para servir de inspiração. (Re) aparecimentos de figuras fascistas com discursos de ódio e uma classe média arrogante e guiada pelos mesmos foram as ruas gritar sem ao menos saber o que estavam fazendo. Foi e está sendo muito didático para todos nós vermos as consequências que isso está tendo. A composição das letras acabou ficando mais para mim, mas mesmo assim nós analisamos e finalizamos tudo juntos.

P.Z.: Recentemente a banda lançou o single Parabéns aos Envolvidos. O que mais os fãs e entusiastas da banda podem aguardar para esse ano?

Leeo: As músicas Parabéns aos Envolvidos e Arquitetos da Desgraça (lançada também como single no ano passado) estarão, junto a mais duas músicas inéditas, no nosso novo EP Ainda Somos Culpados (continuação do EP de 2014 Somos Todos Culpados) que vai ser lançado em vinil 7” ainda nesse primeiro semestre de 2018. Fora esse EP, já estamos gravando músicas para o nosso próximo full [length] (sabe-se lá quando será finalizado e lançado) e vamos fazer o máximo de shows possível.

P.Z.: Em meio ao diversificado merchandising da banda, chama atenção as camisas e suas estampas altamente politizadas e satíricas. Quem elabora essas artes? De onde vem a inspiração?

Leeo: O mago das artes da banda é o Guilherme, nosso baixista (risos). Não é ele quem desenha ou quem estampa as camisetas, mas é ele quem escolhe os artistas (de desenho ou de manuseio digital) e finaliza a maioria dos trabalhos de arte da banda, seja no Merch, seja nos encartes dos nossos CDs e Vinis. A inspiração é basicamente a mesma das letras: tem que ter trabalho artístico e passar uma mensagem, o norte é esse. E nós temos sorte de estarmos rodeados de desenhistas fodas no underground. Essas pessoas, além da maioria serem nossos amigos e amigas, elas desenham pra caralho e são grandes pensadores!

P.Z.: O ano passado a agenda de shows da banda foi bem extensa, inclusive com a “Reação e Resistência Tour 2017” com o DESALMALDO. E para esse ano, como está a agenda?

Leeo: Esse ano o pique é o mesmo! Já estamos na estrada desde o fim de janeiro, tivemos um intervalo de apenas um mês. Esse ano estamos tentando ir para alguns lugares que ainda não fomos e vamos repetir algumas figurinhas também. O DESALMADO é uma banda que nos ensinou muito, nosso relacionamento com eles é de muito respeito e já estamos desenhando mais planos maquiavélicos do time SURRALMADO para 2018.

P.Z.: Para vocês que vem da cena underground de Santos, como vocês avaliam o cenário underground nacional?

Leeo: Acho que o nível de atividade das bandas influencia muito no cenário de uma forma geral. Um exemplo: ultimamente está crescendo muito o número de bandas de mulheres dentro do cenário underground. Guiado por isto, o número de minas, seja como público, organizando shows, fazendo zines, aumentou também. Ou seja, as bandas se movimentam, o público aos poucos volta a frequentar e consumir música underground. Tenho observado que várias outras bandas têm colocado a mão na massa. Estamos gravando material físico, fazendo videoclipes, tocando por todo o Brasil, etc. É um pouco difícil dizer de uma forma tão geral, pois cada cidade tem um tempo diferente para as coisas acontecerem, mas sem dúvida as bandas têm um grande papel nisso.

P.Z.: A palavra está aberta para vocês dizerem o que quiserem para os leitores do Pólvora Zine e aos fãs da banda.

Leeo: Aquele clássico agradecimento por nos acompanharem e apoiarem nesses seis anos. Temos um caminho ainda pela frente de erros e acertos e encorajamos a todos que, assim como nós, gostam de materializar seus pensamentos em forma de arte, que o faça. Valeuzasso mais uma vez, Pólvora Zine!