Pub Utopia: tradição e resistência metal na Espanha

 

Por Écio Souza Diniz

O pub Utopia surgiu em 1981, quando o heavy metal ainda engatinhava na Espanha pós-ditadura, e é reconhecido como um dos pubs pioneiros dedicados ao metal no país, além de ser o primeiro da chamada zona heavy na cidade de Zaragoza, capital do Estado de Aragão e quarta maior cidade espanhola. Desde o começo, virou ponto fixo da cena underground: pequeno, intenso e sem frescura, desses lugares onde o metal acontece de verdade. Ao longo das décadas, o Utopía se consolidou como parada obrigatória em turnês underground, recebendo um grande número de bandas de peso nacional e internacional, tendo recebido bandas como Angelus Apatrida, Artillery, Evil Invaders, Gutalax, Master, Omen, Onslaught, entre outras. Além disso, o espaço do pub também recebeu bandas brasileiras como Krisiun, Mystifier, The Troops of Doom, Noturnall, Headhunter DC e Nervochaos. Portanto, mais que um pub, o Utopía sempre foi ponto de encontro, resistência cultural e base da cena, atravessando gerações sem perder a essência. O Pólvora Zine bateu um papo com Iván Blasco Gracia, que comanda as atividades do pub. 

P.Z: Conta pra gente um pouco sobre como surgiu o bar Utopia.
Ivan: O bar começou em 1981 porque essa região ficava perto da base militar dos EUA, então acabou sendo uma das portas de entrada do metal em Zaragoza. Por causa dos anos de ditadura rolava muita censura contra esse tipo de som, mas mesmo assim, naquela época, teve um boom enorme tanto de bandas quanto de bares voltados pra cena. 

P.Z: Depois de mais de três décadas de funcionamento, qual você acha que é o principal fator do sucesso a longo prazo do pub? E quais foram os maiores desafios nesse caminho?
Ivan: A gente trabalha com um conteúdo bem de nicho e tem a vantagem de poder fazer shows, o que ajuda a manter sempre uma renovação de público. Isso é fundamental pra manter a cena viva e em movimento.


P.Z: O pub Utopia vai muito além de ser só uma casa de shows, virando parte da identidade roqueira de Zaragoza e da comunidade aragonesa. Pra você, qual foi o principal papel do pub na cena underground?
Ivan: A gente funciona como um ponto de encontro social. O pessoal vem pra trocar ideia, se encontrar, socializar em vários níveis. Vai muito além de ser só uma sala ou um pub. Sempre foi um ponto de partida por onde passaram bandas que depois ganharam projeção internacional, como Marea, Angelus Apatrida ou Gutalax, citando nomes nacionais e internacionais que cresceram muito em influência.

P.Z: Depois de quase quatro décadas de atividade, o pub viu muitas mudanças na cena do metal, inclusive no público. Qual foi a mudança mais marcante em relação ao que se vê hoje?
Ivan: Os gêneros musicais vêm e vão, estão sempre mudando conforme as tendências. Mas nos últimos anos parece que o metalcore e todas as suas vertentes ganharam muita força, dominando a cena emergente em vários sentidos.


P.Z: De forma geral, como você avalia a cena underground atual de rock e metal em Zaragoza e em Aragão? E como ela se compara com outras regiões da Espanha?
Ivan: A verdade é que somos muito sortudos. As cidades maiores sempre têm mais projetos, claro, mas Aragão tem uma cena underground muito forte em praticamente todos os estilos do metal. Dá pra citar facilmente mais de 30 bandas, indo do hard rock até o metal extremo.

P.Z: A agenda de shows do pub é bem ativa, com bandas espanholas e internacionais, inclusive bandas brasileiras. Como funciona o processo de seleção e contratação das bandas que tocam no Utopia?
Ivan: A gente não gosta de discriminar. Se a banda faz parte da cena, já tem nossa boa vontade pra tocar aqui. Trabalhamos por ordem de chegada: a banda entra em contato e, se a data estiver livre, pode reservar. Assim a gente chega a programar perto de 80 datas, com bandas de todo tipo.

P.Z: Seguindo essa ideia, se uma banda do Brasil, por exemplo, estiver planejando uma turnê pela Espanha e quiser tocar no Utopia, pode entrar em contato direto com você?
Ivan: Com certeza! Tem bandas brasileiras incríveis e a gente ficaria muito feliz em trabalhar com elas. Não seriam as primeiras bandas do Brasil com quem trabalhamos, e esperamos que com o tempo venham muitas mais.

PZ: Quais são as perspectivas para o futuro do pub?
Ivan: A gente acabou de montar uma associação com outros pubs da mesma pegada, então estamos bem otimistas. Acreditamos que dá pra fortalecer ainda mais a cena daqui pra frente, até mais do que já está hoje.