Foto: Sergio Filho
Por Écio Souza Diniz
Uma
notícia há pouco publicada nas redes sociais da internet fez não somente a mim,
mas vários headbangers Brasil afora estufarem os olhos. Esse anúncio tratava-se
da provável volta aos palcos e ao estúdio de uma das pioneiras bandas e
lendárias do Metal nacional, a DORSAL ATLÂNTICA. É evidente que o brilho deste
retorno refletiu muito em fãs da banda, que não tiveram a oportunidade de vê-la
ao vivo. Ao mesmo tempo despertou o nariz empinado e torcida de cara de várias
pessoas. Para nos falar sobre todos esses aspectos, bati um papo com o sempre
carismático, e ao mesmo tempo enigmático, Carlos Lopes (Carlos Vândalo).
Pólvora Zine: Carlos, comece nos contando o que levou a decisão desta reunião
Carlos
Lopes: O amor dos fãs.
P.Z: Explique melhor como funciona a campanha que vem sendo feita para colaboração coletiva para o lançamento de um novo disco da Dorsal.
Carlos: Crowdfunding
é um sistema de realização de projetos, financiado pelas pessoas, sem
intermediários. O apoiador investe um valor no projeto e recebe em troca a
realização de ver o sonho se tornar realidade e de forma coletiva. Um novo disco da DORSAL ATLÂNTICA com formação
original pode se tornar realidade em 2012, através desse mesmo financiamento
coletivo. A data limite é 10 de JUNHO de
2012. Se até essa data, se o valor total de 40 mil reais não for
arrecadado, o CD não será produzido. Desse valor 27,5 % são do imposto de renda
e 12% do site CATARSE. O restante está subfaturado e cobre os gastos com
ensaios, gravação, mixagem, masterização, prensagem, arte, pagamento dos
técnicos e entrega dos digipacks pelo correio com os demais brindes. Por
exemplo, a nova edição do livro GUERRILHA! com capa dura e letras prateadas,
custa, a unidade, quase 100 reais e não colocamos um centavo em cima. Esse é o
valor de um livro de luxo feito em quantidade limitada.
O APOIADOR receberá em primeira mão o novo CD da DORSAL ATLÂNTICA, em
formato digipack, gravado pela formação original, separada há 22 anos. Os
valores de contribuição cobrem todas as despesas relativas à gravação e
prensagem do novo CD da DORSAL ATLÂNTICA. As diversas opções de investimento
estão disponíveis no site CATARSE.ME.
P.Z:
Como é pra você retornar com a formação clássica da banda (que gravou os álbuns
“Antes do fim”, “Dividir e conquistar” e “Searching for the light”), que conta
com seu irmão, Cláudio Lopes, e o batera Hardcore?
Carlos:
Emocionante, apenas isso. É parte do meu DNA.
P.Z:
Por um tempo, notava-se digamos que uma resistência quanto você falar sobre a
Dorsal, e seu envolvimento estava bem integralmente com o MUSTANG (banda de
Rock and roll que Carlos fundou após o fim da DORSAL ATLÂNTICA). Quais os
motivos o faziam ter tal posição?
Carlos:
Estou fazendo o que os fãs me pediram, o que os fãs me pedem há 12 anos. Mas
tudo é negociado, shows por enquanto não, então optei por um disco de inéditas,
um disco feroz calcado no passado e mirando o futuro da música pesada no
Brasil. Apenas cedi ao encanto dos fãs, ao pensar primeiro neles e não mais em
mim, mas também pedi uma contrapartida: o investimento. Se a DORSAL faz tanta
diferença na vida de milhares, esses mesmos milhares devem se erguer, trabalhar
conjuntamente para ver esse sonho se realizar.
P.Z:
O livro Guerrilha que conta a história não somente da Dorsal, mas do início da
cena Metal e underground brasileira, foi um marco em termos de lançamento do
gênero. O livro dá uma visão clara de como é difícil viver firme e com
dignidade na cena. O que você acha do livro e qual a importância dele?
Carlos:
Provavelmente o livro se transformará em um longa metragem, já estou
conversando sobre isso com um produtor desde o ano passado. O relançamento do
livro virá junto à campanha do CD da DORSAL. Se o CD não for lançado, o livro
também não será. E essa nova versão do GUERRILHA! é muito especial: capa dura recoberta por
simulação de couro negro, papel interno couchê 150 gramas e título impresso em
letras prateadas em hot stamping. O livro só será lançado se a campanha do CD
da Dorsal for vitoriosa.
P.Z:
Outro bom presente dado aos fãs da banda, sobretudo, os mais novos, foi o
relançamento do “Antes do fim” em CD (intitulado “Antes do fim depois do fim”)
e também do “Ultimatum”, que inclusive, recentemente está tendo relançamento em
vinil, que ficou a cargo do Leon (Manssur “Necromaniac”, vocalista e líder da
banda carioca APOKALYPTIC RAIDS). Deve ter sido um trabalho árduo estes
relançamentos (sobretudo o “Antes do fim”, que você regravou as músicas), mas
recompensador?
Carlos:
O Antes do Fim de 2005 acabou de ser relançado em digipack e o Ultimatum em LP
através do Leon Manssur. Trabalhoso, eu não diria, mas caprichado. Todos os
meus trabalhos, sejam musicais ou literários, são extensões da minha
criatividade, da minha alma e também por causa disso, não podem ser leiloados. Ou
fazemos o melhor , o mais criativo, ou de nada valerá tanto esforço, tanto
amor. Em 2005, eu e o baterista do MUSTANG, Américo Mortágua, regravamos o
Antes do Fim para que o disco voltasse ao mercado. O disco foi feito com a
mesma sonoridade rústica, e com todo o comprometimento para fazer o melhor e
assim foi feito. Gosto mais da versão de 2005 do que a de 1986, apesar de
compreender que são incomparáveis.
P.Z:
Vou aproveitar para pegar o gancho da pergunta anterior, e gostaria de saber se
você pretende relançar o “Alea Jacta Est” e “Straight”, que hoje são muito
difíceis de encontrar para comprar.
Carlos:
É um acordo entre gravadora e autor. Se nos procurarem, a gente conversa.
P.Z:
Ao retornar com a DORSAL ATLÂNTICA, provavelmente você terá uma agenda bem
cheia. Não fica difícil para você conciliar isso com as atividades do MUSTANG?
Carlos:
Difícil é conciliar tudo, não só as bandas. Minha vida não é só música, ela é
uma parte importante de mim, de quem sou, mas não é a única coisa. Posso fazer
tudo o que puder, seja com música ou literatura, desde que haja cabeça, tempo e
verba.
Sobre a volta: A DORSAL não voltou, ela
deve gravar um CD, caso o apoio dos fãs seja maciço. Show é uma outra história,
depende dos promotores. Para corroborar cito o caso do Maranhão: fomos convidados para sermos os
headliners de uma noite do 'Metal Open
Air', tendo como abertura para a
Dorsal Atlântica, as bandas Exodus e Anthrax. Muitos diriam sim, eu disse
não porque não havia cachê. Muitas bandas pagam para abrir shows
internacionais, pagam para tocar, eu nunca fiz isso. Mas essa verdade é minha,
é nossa, é única e não pode ser provada, pois caráter não se prova.
P.Z:
A quantas está a composição das músicas para o novo disco? O que poderemos
esperar dele?
Carlos:
Não gosto de prometer, porque antes de tudo promessa pode vir a ser fato, mas
ainda não é. A inspiração para o novo trabalho vem dos nossos primeiros
trabalhos entre 1986 e 1990, ou seja, a fase da banda com o trio que pode vir a
gravar o novo CD. As músicas estão sendo escritas há dois meses, desde que o
projeto foi pensado.
Meu
Filho me Vingará (sobre Euclides da Cunha), Stalingrado (sobre a vitória dos
russos contra os nazistas), Operação Brother Sam (sobre o golpe de 1964 e a
reação americana contra a esquerda brasileira), Jango Goulart, Eu Minto, Tu
Mentes, Todos Mentem, O Retrato De Dorian Gray, Corrupto Corruptor, Colonizado
/ Entreguista, A Invasão Do Brasil, 168 Bpm, Imortais.
P.Z: Diga-nos como você tem encarado as críticas raivosas e negativas de alguns que torcem a cara para a volta da banda?
Carlos:
Só me preocupo com os nossos fãs, com quem nos apoia, com quem nos ama.
P.Z: Você disse na entrevista a Roadie Crew, que não pretendia fazer shows com este retorno. Mas você não acha que seria um bom presente para os fãs fiéis da banda, sobretudo, a geração mais nova e os apoiadores?
P.Z: Você disse na entrevista a Roadie Crew, que não pretendia fazer shows com este retorno. Mas você não acha que seria um bom presente para os fãs fiéis da banda, sobretudo, a geração mais nova e os apoiadores?
Carlos:
A campanha foi criada para um CD que está sendo financiado pelos fãs. Este é o
novo disco da banda que o público pediu insistentemente durante 12 anos que
voltasse. O CD não deixa de ser uma volta, mas marca algo maior: o retorno da
maior banda de heavy metal do país. Eu farei a minha parte que é criar um disco
inesquecível que renovará e relembrará quais são as reais fundações do metal
brasileiro. O público que nos der a mão será recompensado de muitas formas, uma
delas, e a mais recente é que a última
faixa do disco é um hino escrito em homenagem aos fãs da DORSAL, as pessoas
mais especiais de todo o planeta.
P.Z:
Carlos, boa sorte e sucesso com seus planos. É evidente que será uma
revitalização para o Metal brasileiro o retorno da DORSAL ATLÂNTICA. O espaço
está livre para você deixar uma mensagem aos fãs e todos que apoiam e apoiaram
a banda.
Carlos: Nada é mais importante do que ver esse CD pronto
neste momento. Se o valor não for arrecadado até 10 de JUNHO e não julho, não
há plano B para nós, nem para a DORSAL. Dependerá do público ver essa página virada
ou não, dependerá do público nos mostrar que o socialismo, a grande ferramenta da internet, é real e não a
“violência”.