Resenha por Écio Diniz
Fotos:Écio Diniz e Keniton Rezende
E eis
que mais uma celebração ao Rock and roll e Metal foi consumada nos palcos da
Fazenda Estrela (Varginha-MG), cumprindo primorosamente mais uma edição do Roça
and roll, que além de já ser um dos maiores festivais do país nos últimos anos,
foi além nesta edição com um cast de tirar o fôlego. Nesta 15ª edição do
evento, que teve como headliner os consagrados alemães do GRAVE DIGGER, o que
não faltou foi agitação constante para o público.
Apesar
do evento como um todo ser distribuído por três dias (teve início dia 30 de
junho), nós tivemos apenas como comparecer no dia principal do evento (01 de
junho), devido à logística de conciliar a ida para o local com trabalho e os
compromissos do dia a dia. É exatamente este dia principal do evento que aqui
será descrito, a fim de transmitir aos headbangers de várias regiões a
magnitude da coisa toda.
DROWNED |
A
jornada nesse grande dia para curtir o som que tanto amamos começou as quase 16 horas da tarde, horário em que aportamos no solo do
Roça. Infelizmente, perdemos algumas bandas legais, visto que por
volta de 14 horas já havia várias bandas tocando. Mas, chegamos e pegamos de
cara os belo horizontinos do DROWNED, que creio não precisar dizer que é um dos nomes de competência da cena mineira nos últimos anos. Atualmente
divulgando seu mais novo álbum, o ‘bélico’ “Belligerent Part I - The killing
state of the art” (2012), eles conseguiram levantar as rodas de mosh com seu
Death/Thrash intrincado, técnico e agressivo. A avalanche de rifferamas de
músicas como a faixa-título do novo álbum e o vocal poderoso de Fernando Lima
foram o suficiente para balançar as estruturas do local.
CÓLERA |
Na
sequência veio uma lenda do punk nacional, a CÓLERA, agraciando muitos dos fãs
mineiros que não tiveram até então a oportunidade de conferir a banda ao vivo.
Mesmo com a ausência do caricato e inesquecível Redson (vocal e guitarra,
falecido em 2011), a banda decidiu tocar o barco, propagando sua ideologia
libertaria. O novo vocalista Wendel agitou a galera, com sua performance
frenética pelo palco, e dentre vários clássicos já era esperado a extasia em
músicas como ‘Pela paz’, cantada por boa parte do público. Enquanto o punk moía
no palco principal, na tenda combate o Hard/Heavy do GLITTER MAGIC mostrava sua
cara, alavancando também um público relativamente grande e empolgado. Além de
tocar grandes sons de seu álbum “Bad for health” (2012), a banda ainda puxou
mais o agito com covers de ‘Sad but true’ do METALLICA e ‘Whiskey in the jar’
do eterno THIN LIZZY. Realmente, esta é uma banda com grande potencial.
GLITTER MAGIC |
Agora
era hora de um terremoto chamado NERVOCHAOS subir ao palco e arrebentar os
tímpanos desavisados ou sensíveis com seu Death metal brutal. A banda, que é um
dos grandes expoentes do som extremo brasileiro, já com seu nome reconhecido na
Europa, tocou músicas para arrasar quarteirão de vários momentos de sua
carreira como faixas do álbum “Battalions of hate” e a faixa título do seu novo
álbum, “To the death” (2012). O vocalista/guitarrista Guiller demonstrou grande
atuação. Na verdade, a banda toda é bem coesa e tende a se consolidar cada vez
mais na cena.
NERVOCHAOS |
Os
varginhenses do MOTOSSERRA TRUCK CLUBE, que já tocaram no festival em 2012, vieram
em seguida, para trazer uma onda mais malandra de curtição e cervejada com seu
Rock and roll rasgado e sem frescura. Na divulgação de seu primeiro álbum, “Na
estrada” (2012), a execução de músicas como ‘Madeira’ e ‘Tira-gosto’, com
destaque para o bem humorado vocalista Thiago Giovanella, falou por si só em
agitar a galera. Além disso, a banda executou em grande forma o hino do Roça
and roll. A classificação a que eles mesmos se propõe de “banda sul-mineira que
mistura Heavy Metal com serra elétrica, caminhão, lenha e cachaça”, faz jus ao
show que fazem.
MOTOSSERRA TRUCK CLUBE |
Aos
adeptos de um som extremo mais trabalhado e orquestrado, os baihanos do
MALLEFACTOR trouxeram seu “Barbarian metal” ou “Unholy metal” como é mais
referida. Atualmente a banda divulga seu recém lançado trabalho, o emblemático “Anvil
Of Crom” (2013). Bases fortes, complexas, alternâncias entre vocal rasgado e limpo do
vocalista Lord Vlad e orquestrações via teclado, propiciando atmosferas
profundas, agradou boa parte do público.
MALEFACTOR |
Propicio
para tomar um fôlego curtir um Rock and roll mais raiz e beber uma cerveja, ou
até mesmo uma cachaça, o CRACKER BLUES, que já se apresentara em no evento em
2011, mandou ver em seu “Blues and Roll” e foram um dos grandes momentos da
noite. Com influências de lendas como Robert Johnson, ZZ Top, The Allman
Brothers Band, Jimi Hendrix e Stevie Ray Vaughan, eles deram um toque especial
no evento. A músicas de seu álbum, “Entre o méxico e o inferno” (2009) tem tudo
para torna-la um grande nome do estilo no Brasil.
ORPHANED LAND |
Uma das
atrações principais cotadas e esperadas para esta edição do evento, sobretudo,
pela natureza um tanto ‘exótica’ de sua música acabara de entrar em cena.
Direto de Israel, a ORPHANED LAND fez um show interessante e agradável de assistir,
primeiro, pela performance da banda, sobretudo do guitarrista Yossi Sassi e do
vocalista Kobi Farhi, que interagiam muito publico. Em segundo lugar pela
criatividade de suas músicas, que caminham num sentido digamos até que
progressivo mesclado ao Metal, visto as várias atmosferas que as compõe, sendo
isto unido a elementos típicos da música de sua terra natal. Não é necessário
dizer, que é no mínimo diferente e surpreendente ver uma banda cantando em
hebraico. A execução de músicas como ‘Sapari’ e ‘Norra el norra’ são apenas
dois exemplos, dentre os vários momentos em que os israelenses conquistaram a
simpatia do público do Roça and roll que cantou com eles diversas músicas em
clima muito amistoso, o que refletiu em várias trocas de satisfação entre banda
e público.
DEVON |
A banda
DEVON, entrou em seguida com seu Heavy metal de ótima qualidade, tocando
músicas de seu debut álbum, o excelente “Unreal” (2012). O vocal de Alex
Gardini se encaixa perfeitamente na proposta da banda e pode ser considerado
acima da média. Músicas como ‘Turning’, ‘Call the brothers’ e ‘The sunset rider’
servem como amostra do potencial da banda e agitou parte do público. Além
disso, presentearam os presentes com covers bem executados de ‘Perry mason’ do
OZZY e ‘Painkiller’ do JUDAS PRIEST. O baixista Rafael DM é outro destaque na
banda, pois além de ser um dos principais compositores, possui excelente
técnica, visto também sua atenção na lendária banda de Thrash paulista, PANZER.
O único pesar do show da DEVON foi o fato de simultaneamente estar sendo montada
a estrutura do GRAVE DIGGER no palco ao lado, o que dispersou uma parte do
público, e dois pobres mal educados que ficavam em frente ao palco pedindo à
banda que tocasse covers. Mas aos que assistiram ao show com atenção, tenho
certeza que em sua maioria viram a qualidade da DEVON.
GRAVE DIGGER |
O
momento tão esperado por muitos dos presentes finalmente chegou, os alemãs do
GRAVE DIGGER entraram em cena, para despejar decibéis de seu Heavy metal forte
e tradicional, que a tornou uma das maiores bandas do estilo no mundo. A
abertura já foi apoteótica com a faixa título do novo álbum, “Clash of the gods”
(2012), e ela foi apenas a ponta do iceberg, visto que o que viria no decorrer
do show foi simplesmente e literalmente emocionante. Apenas para citar alguns
dos vários momentos deste show que pode ser dito sem receio ou exagero algum
como impecável, o clima foi de euforia com músicas como ‘The grave digger’, ‘The
house’ e ‘The last supper’. Se com essas músicas foi assim, imagine o delírio
com clássicos como ‘Excalibur’, ‘The round table (forever)’ (ambas do álbum “Excalibur”,
1999) e a trinca de ferro do inquebrável “Tunes of war” (1996): ‘Rebellion (The
clans are marching)’, cantada em uníssono pelo público, ‘The dark of the sun’ e
‘Killing time’. O vocalista e líder Chris Boltendahl demonstrava imensa
satisfação durante todo o show, visto a imensa receptividade do público, em sua
grande parte mineiro, à banda, e com isso ele se comunicava com as pessoas
instigando-as a gritar o máximo que podiam e percorria o palco com frenesi. Era
incontido o sorriso de Boltendahl cada vez que o público entoava: “olê, olê,
olê, Digger, Digger”. A atuação do guitarrista Stefan Arnold também foi um
grande destaque visto sua excelente técnica aliada a um grande feeling. Para
fechar esta verdadeira aula de Heavy Metal, Boltendahl anunciou um dos primeiros
e absolutos hinos da banda, ‘Heavy metal breakdown’ (do debut álbum autointitulado
de 1984). Se você algum dia puder ir ao show desses alemães, vá e aposto que
concordará com tudo o que aqui descrevi.
MARTIN WALKYIER |
Para
não poupar o fôlego de muitas pessoas, após a avalanche Metal alemã, os fãs do
bom e velho Folk metal receberiam agora o vocalista inglês Martin Walkyier,
executando juntamente com a TUATHA DE DANANN os clássicos de sua ex-banda, a
lendária SKLYCLAD. O vocalista que já esteve tocou no Roça em 2010, se mostrou
muito contente em tocar no Brasil novamente, e volta e meia falava de sua paixão
pela cachaça, intitulando-se como o “Cachaceiro inglês” dito em bom português.
Além disso, interagia com desenvoltura com os bangers e não fez feio em músicas
renomadas da SKYCLAD como ‘Civil war dance’ e ‘Inequality street’. Ao término
da apresentação de Martin Walkiyer, a TUATHA DE DANANN que desde 2010
encontra-se temporariamente parada, se reuniu mais uma vez para satisfazer o
grande público que conquistara no decorrer de sua carreira. É evidente que
músicas como ‘The dance of the little ones’, ‘Land of youth’, ‘Believe: it’s
true!’, ‘The last words’ e a muito bem humorada ‘Finganforn’ tocadas neste show
não soam datadas, mas ao contrário disso, criam um clima viajante que
transporta-nos a cultura celta e contos de gnomos, duendes, druidas e afins.
Realmente, a banda ainda pode ter a oferecer e resta esperar um possível
retorno definitivo.
TUATHA DE DANANN |
O
momento de uma lenda do Metal nacional entrar em cena chegou, os cariocas da
METALMORPHOSE adentraram o palco, que foi estilizado com a arte da capa de seu
novo álbum, o já clássico “Máquina dos sentidos” (2012). A banda, que foi uma
das pioneiras no estilo em terras tupiniquins, se mostrou entrosada e em plena
forma. O timbre vocal de Tavinho Godoy está mais evoluído e fez um bom trabalho
nas músicas novas como nas antigas. Como era esperado o set foi mais voltado as
músicas do novo álbum, assim, a banda abriu com a marcante ‘Jamais desista’, e
tocaram ainda ‘Máscara’, a ótima ‘Metrópole’, ‘Pelas sombras’, ‘No topo do
mundo’ e a inesquecível faixa titulo. Já com relação aos clássicos dos anos 80
tocaram a inigualável ‘Cavaleiro negro’ e ‘Desejo imortal’ (ambas do histórico Split
“Ultimatum” com a DORSAL ATLÂNTICA, de 1985), assim como ‘Maldição’ e ‘Minha
droga é metal’. De quebra ainda mandaram dois clássicos do AZUL LIMÃO, ‘Satan
clama metal’ e ‘O grito’, que se deve a presença do recém integrado a banda,
Marcos Dantas (guitarrista da AZUL LIMÃO). O baixista André Bighinzoli falou e
demonstrou várias vezes ao público sua satisfação em estar tocando no sul de Minas
Gerais, região em que muitos que conhecem a banda nunca a viram ao vivo e
vários outros puderam conhece-la. Infelizmente, o set da banda não pode ser
maior, e assim hinos como ‘Harpya’ e ‘Complexo urbano’ ficaram de fora, visto
também que o horário já passava das três da madrugada, e além, disso muitos já
estavam bem cansados. Mas que a banda retorne aos palcos do Roça and roll, em
horário mais acessível e possa ser ainda mais prestigiada.
METALMORPHOSE |
O
encerramento dessa edição foi feito com chave de ouro com um nome oldschool do
Thrash, a paulista ATTOMICA. E boa parte do público permaneceu no local para
vê-la. Logicamente que não decepcionaram e riffs cortantes e cascudos no melhor
estilo Thrash foi o que não faltou, e ainda alavancou moshs ferrados. A atuação
do vocalista Alex Rangel é a ideal para uma banda do calibre da ATTOMICA. O
conjunto de músicas que abrangeram álbuns como o primeiro autointitulado (1987),
“Disturbing the noise” (1991) e o mais recente e competente “Attomica 4” só
podiam mesmo era esquentar o sangue dos headbangers na madrugada fria que é
comum na Fazenda Estrela essa época do ano.
ATTOMICA |
É isso
aí, se passaram 15 anos desde a primeira edição do evento, que começou de forma
descompromissada, um lance entre amigos, em sala de casa (falo sério, confiram
no DVD documentário: “Roça and roll: 15 anos de estrada e mueção”), tem se
consolidado ainda mais a cada edição como um dos maiores festivais do país, que
recebe desde bandas grandes até aquelas que estão começando.