NECROMANCIA: 30 anos de Thrash metal na veia.


Por Écio Souza Diniz

Uma banda de Metal completar 30 anos de estrada no Brasil é uma tarefa árdua. Isto ser concebido ainda para uma banda de Metal mais extremo, que tem suas bases num cenário underground é ainda mais surpreendente. Entretanto, quando se tem como predicado sinceridade e honestidade no que se faz, o tempo costuma ser um juiz que conta a favor. Surgido no ABC paulista, nos anos 80, o NECROMANCIA em 2014 comemora esta longevidade de seu trabalho, calcado num Thrash metal puro e genuíno e responsável por um dos debuts brasileiros mais clássicos do estilo. Hoje a banda formada por Marcelo d’Castro (vocal e guitarra), Kiko d’Castro (bateria) e Roberto Fornero (baixo) mostra que ainda tem muitos planos pela frente, dentre eles um DVD com a história da banda e um novo álbum. O baterista Kiko é quem nos conta sobre a trajetória do NECROMANCIA e muito mais.  
Pólvora Zine: São 30 anos de estrada. Fale-nos um pouco do inicio da banda e o que mais foi importante em vivencia no underground durante todo este tempo.
Kiko D’Castro: Meu irmão e eu iniciamos a banda em 1984, ele nos vocais e guitarra e eu no baixo, na bateria no início tivemos algumas tentativas que acabaram não rolando, e aí quando o Budega deixou a banda COVA, não tivemos dúvida em chamar ele, pois era um cara mais velho que a gente e tinha mais experiência. A ideia era eu tocar guitarra e manter nosso antigo batera, Junior que foi o cara que trouxe o nome NECROMANCIA, ele gostava de ler livros sobre magia e ocultismo, no primeiro ensaio o cara não apareceu e eu acabei tocando bateria, no final do ensaio os caras vieram me convencer a ser o baterista, uma vez que não estava dando certo com o Junior e que havia rolado uma puta vibe. A partir daí fechamos essa formação, sempre curtimos ser um trio, tipo MOTORHEAD, VENOM, que sempre foram uma forte influência, com o Budega gravamos a coletânea Headthrashers Live em 1987. Ainda neste ano estávamos reformulando nosso som e optamos por ter outro guitarrista e chamamos o Roberto Fornero, fizemos alguns shows e na sequência foi a vez do Budega deixar o barco. Ficamos alguns anos trocando de baixistas até 1993, logo após o lançamento do compacto Hypnotic, o cara que estava tocando com a gente na época era André Cayres, músico freelance e antigo amigo nosso, que segundo ele, o NECROMANCIA foi inspiração pra ele no início de sua carreira. Como ele estava de mudança pra Alemanha pra estudar contrabaixo em uma universidade, o Fornero acabou fazendo alguns shows e tocando baixo, aquilo foi muito legal, voltar a ser um trio, todos ficamos muito animados e somos essa formação desde então.
P.Z: O debut homônimo do Necromancia lançado em 1996, hoje é considerado um clássico do Metal nacional. Você imaginava quando ele foi lançado que teria tanta relevância no futuro?
Kiko: A ideia de toda banda é ter um trabalho que fique na história, conosco não é diferente, pra produzir um CD, você coloca todo o sangue na parada sem saber no que vai dar, nos orgulhamos muito desse CD.
P.Z: Após Check mate (2002) a banda ficou anos inativa, voltando em 2012 com o excelente Back from the dead. O que principalmente fez com que ficassem tanto tempo parados?
Kiko: Não ficamos exatamente parados, passamos por momentos difíceis na vida pessoal e tivemos que matar um dragão por dia pra manter as coisas funcionando, prefiro não expor esse lado pessoal, pois o que interessa mesmo é a música. Mas tocamos todos esses anos e continuamos trabalhando nas composições de Back From The Dead. Em 2003 relançamos o Check mate pela Hellion Records, e em 2004 ele foi lançado na Europa pelo selo holandês Mausoleum Recods, em 2005 tocamos em Foz do Iguaçu e Asunción no Paraguai e em 2006 começamos a primeira pré-produção no estúdio Da Tribo. Ou seja, não ficamos afastados, ficamos em menor exposição em mídia, mas ralando e mantendo os calos em dia.
P.Z: Qual foi o saldo do lançamento de Check mate na Europa pela Mausoleum Records?
Kiko: Não tivemos acesso da gravadora quanto a esse tipo de informação, nem mesmo da Hellion que foi quem conseguiu esse lançamento e segundo eles fomos os únicos a ser lançado pela Mausoleum dentro do pacote de bandas da Hellion na época. Nos foi informado por amigos em países como Inglaterra, Alemanha e Holanda que acharam o Check mate em mega-stores e lojas especializadas em Metal, então tentamos contactar a Mausoleum pra obter informações quanto a vendas mas nos foi negado e que eles só passariam essas informações para Hellion, mas conseguimos uma boa exposição em sites e webzines com resenhas muito positivas.
P.Z: Como foi que surgiu a parceria com a Voice Records para relançar o debut, acrescido das demos Headthrashers live, Suicidal madness (1988) e o compacto Hypnotic?
Kiko: O Silvio Golfetti é um velho amigo nosso, quando toquei no KORZUS ele já havia comentado de uma futura parceria e como ainda demoraria pro nosso CD novo sair ele sugeriu relançar nosso primeiro CD com o que tivéssemos pra incluir como faixa bônus. Ele havia feito isso com o CD ao vivo do KORZUS e incluiu um monte de material inédito, inclusive comigo tocando e foi o que fizemos, e posteriormente lançamos o Back from the dead e temos planos pra relançar o Check mate no mesmo formato com varias faixas bônus.
P.Z: O ABC paulista teve uma cena muito forte, especialmente do punk/hardcore nos anos 80. Como você enxerga a cena aí atualmente? Tem surgido interessantes bandas de Rock and roll como a Mattillha.
Kiko: O movimento Punk no ABC teve seu momento áureo do final dos anos 70 até 83/84 com os PUNK ANJOS, a partir da metade dos anos 80 entra em cena o Metal com bandas como o COVA, MX, BLASPHEMER, HAMMERHEAD, TREVAS, BAPHOMET, DEVASTOR. O Hardcore começou a tomar força no fim dos anos 80 e começo dos anos 90. Forte mesmo nos anos 80 foi o Metal, hoje tem muitas bandas boas aqui como NECROMESIS, SEVENTH SEAL, BIOFACE…
P.Z: Comparando Check mate e Back from the dead, separados 10 anos um do outro, quais as principais diferenças você considera preponderantes entre eles?
Kiko: Ter trabalhado com Geraldo D’Arbilly na produção do primeiro CD nos deu uma visão melhor em relação a este processo. No Check mate aliamos isso a produção do Andreas Kisser que nos ajudou nos arranjos, voz e contribuiu com a letra da música The Blooding. Parece que compor depois disso ficou um pouco mais fácil, a gente também teve a participação de alguns amigos: Alex Camargo do KRISIUN na música The Blooding, Paulo “Gepeto” do AÇÃO DIRETA em Farsa e Bafo Netto do RETTURN em Scavenger. Em Back from the dead tivemos o Ciero do estúdio DaTribo dividindo a produção com a gente e preferimos segurar a onda sozinhos sem nenhuma participação, na “caruda” mesmo, tentando ser o mais sincero e original que pudéssemos ser, particularmente considero que atingimos esse objetivo e nesse CD resgatamos também uma sonoridade que tínhamos nos anos 80.
P.Z: Kiko, quais foram as contribuições que você recebeu em suas participações em bandas como o KORZUS e o SEVENTH SEAL?
Kiko: Sim, participei nos shows de bandas como: HAMMERHEAD, F.D.S., KORZUS, SEVENTH SEAL e AÇÃO DIRETA. Quanto as contribuições que recebi, eu os fiz por amizade que tenho com esses caras, nunca esperei nada por isso, foi muito gratificante poder ajudar meus velhos amigos e manter suas bandas em atividade, trabalhei também como drum tech em quase todos os discos do AÇÃO DIRETA, Omnisciente coletivo do RATOS DE PORÃO e Fulminant do CLAUSTROFOBIA.
P.Z: Quais são os próximos passos que pretendem seguir agora?
Kiko: Estamos finalizando o videoclipe da musica Playing god, acredito que o faremos ainda nesse mês de novembro (N.P.: esta entrevista foi conduzida no início de novembro de 2014). Estamos recolhendo material pro lançamento do nosso DVD História, já temos um bom material novo escrito e estamos iniciando a pré-produção de parte desse material, queremos fazer um agito legal pro ano de 2015, mas acredito que o CD novo ficará pronto em 2016.
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